segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Constantin Stanislavski



Constantin Siergueieivitch Alexeiev, em russo Константин Сергеевич Станиславский, (Moscou, 5 de Janeiro de 1863 — Moscou, 7 de Agosto de 1938), mais conhecido por Constantin Stanislavski, foi um ator, diretor, pedagogo e escritor russo de grande destaque entre os séculos XIX e XX .
Desde pequeno Stanislavski tinha contato com todos os tipos de artes, pois nascera em família rica. Sua primeira apresentação ocorreu quando ainda tinha sete anos em um teatro que seu pai mandara construir em sua casa. Neste local, também conhecido como Círculo Alexeiev, aconteciam vários encontros com atores, diretores, músicos, artistas plásticos conhecidos. Após os casamentos na família, esses encontros começaram a ficar mais raros.
Em 1888, Stanislavski funda a Sociedade Literária de Moscou, no qual passa a estudar a arte teatral com grandes personalidades da época, como o diretor Fiédotov. Este empreendimento não teve muito sucesso, principalmente no aspecto financeiro o que levou Stanislavski a arcar sozinho com as despesas.
Após trocar correspondências com Vladímir Ivânovitch Niemiróvitch-Dântchenco (1858 – 1943), escritor e professor de arte dramática na Filarmônica de Moscou; iniciou no dia 22 de junho de 1897, às 14h; no Slaviánski Bazar (Mercado Eslavo, nome de um restaurante), não só um conversa histórica, mas um diálogo, de um empreendimento, que marcaria o teatro no século XX: o Teatro de Arte (ou Artístico) de Moscou Acessível a Todos, que depois passaria a ser conhecido como o Teatro de Arte de Moscou.
Foi neste local que Stanislavski, durante anos, teve a oportunidade de testar métodos e técnicas no trabalho de preparação do ator. Muito desses foram deixados de lado e outros aprofundados. Estes seus estudos geraram o conhecido "sistema" Stanislavski (como ele mesmo o chamava).

O Sistema
'O que realmente significa, escrever sobre o que é passado e já foi feito? O sistema vive em mim mas não tem contorno ou forma. O sistema é criado no ato de escrevê-lo. Esta é a causa de porque eu tenho que ficar trocando o que eu tinha antes escrito. (Benedetti, J. Stanislavski and the Actor: The Method of Physical Action, p.22)'Cquote2.png

Jean Benedetti descreve que as primeiras anotações sobre o sistema foram feitas por Stanislavski ainda em 1906 e que sua primeira parte estava pronta já em 1920 (Benedetti, Stanislavski an Introduction, Kindle Ed.). Jaco Guinsburg descreve as inquietações de Stanislavski na busca de um forma teatral apurada:
Cquote1.png'Nós estávamos protestando contra a forma de se atuar no palco, contra a teatrada e o pathos afetado, a declamação e a representação exageradas, contra o sistema de estrelato que arruinava o ensemble, contra o modo como as peças eram escritas, contra a insignificância dos repertórios. A fim de rejuvenescer a arte, declaramos guerra contra todos os convencionalismos do teatro: no desempenho, direção, cenários, trajes, entendimento das peças etc.'Cquote2.png

Impulsionado por renovações cênicas, compromissos e por experiências ao longo de sua vida, Stanislavski criou, desenvolveu, sistematizou e aprimorou o que chamou de “sistema”. Este se embasava nas ações físicas, as quais [...], por sua vez, transmitem o espírito interior do papel que estamos interpretando [...], sendo elas abastecidas pela vida e pela imaginação que o ator empresta à personagem. Assim sendo, a partir de Stanislavski, ações físicas, espírito interior, imaginação, são palavras chaves e integradas em todos os métodos de interpretação para o ator desde então. Stanislavski afirma, sobre seu sistema:
Cquote1.png'O sistema é um guia. Abra-o e leia-o. O sistema é um livro de referência, não uma filososfia. Quando a filosofia começa o sistema termina. Você não pode atuar no sistema: você pode trabalhar com ele em casa, mas, estando no palco, você deve colocá-lo de lado.(...)' Não há sistema. Existe apenas a Natureza. O objetivo da minha vida tem sido chegar tão perto quanto possa ao assim chamado sistema, isto é da natureza da criação.
As leis da arte são as leis da Natureza. O nascimento de uma criança, o crescimento de uma árvore, a criação de uma personagem são elementos de uma mesma ordem. O estabelecimento de um sistema, isto é, as leis do processo criativo, é essencial porque no palco, pelo fato de ser público o trabalho da natureza é violado e suas leis são infringidas, o sistema re-estabelece estas leis, recoloca a natureza humana como a norma (...)
O primeiro aspecto do sistema é colocar o inconsciente para trabalhar. O segundo, assim que se inicia, é deixe-o de lado (leave it alone). (Benedetti, Stanislavski an Introduction, Kindle Ed.)
Cquote2.png

Ao todo, sobre o “sistema”, Stanislavski tem publicado em português um total de quatro obras: Minha Vida na Arte, A preparação do Ator, A Construção da Personagem e A Criação de um Papel; os três últimos livros, em nossa língua, foram traduzidos por Pontes de Paula Lima, da versão feita pela norte-americana Hapgood. Esta traduziu e editou apenas uma seleção dos escritos originais russos. Estas versões possuem omissões de palavras, frases, idéias e capítulos inteiros, que se originam de decisões de cortes da edição da tradutora norte-americana.

 Influência e desenvolvimento do "sistema"

Stanislavski também influiu na ópera moderna, e impulsionou os trabalhos de escritores como Máximo Gorki e Anton Tchecov. Em 1905 funda o primeiro Teatro Estúdio (Moscou), um local para experimentações que será dirigido por Meyerhold (Meyerhold, Alberto Editor, pg 119).
Seu sistema, também chamado de Método das Ações Físicas, teve diversos seguidores, nas várias fases em que foi desenvolvido. Um de seus alunos (Richard Boleslavski), fundou em 1925 o "Laboratório de Teatro", nos Estados Unidos. Esta iniciativa, baseada apenas na chamada "memória emotiva", causou grande impacto no teatro americano, mas a técnica de Stanislavski tem ainda outros aspectos.
Stella Adler foi a única norte-americana que estudou com Stanislavsky, em Paris, durante 5 semanas no ano de 1934, seguindo assim o Método de Ações Físicas. Adler apresentou o esta abordagem a Lee Strasberg, como ela também ator e diretor do Group Theater, que o rejeitou, - motivo pelo qual Adler declarou que ele "entendeu tudo errado". Strasberg é um dos nomes principais no desenvolvimento do Método do Actors Studio, uma leitura do sistema desenvolvido por Stanislavski.
De 1934, ano em que Adler estudou com ele, até sua morte em 1938, Stanislavski continuou no desenvolvimento de seu sistema, acrescentando novas idéias e reforçando as já desenvolvidas.

 Conceitos

Análise Ativa
Segundo Kusnet, a análise ativa é uma maneira dos atores analisarem o material proposto pelo texto dramatúrgico em ação, nos ensaios, ou seja, procurar compreender a obra dramática através da ação praticada ou improvisada pelos intérpretes dos papéis a partir de conhecimentos superficiais da peça, e não na base de grandes estudos cerebrais de entendimento do texto. (Kusnet, 1987, p. 98)
Subtexto
Cquote1.pngA parte mais substancial de um subtexto está nas idéias (…) nele implícitas, e que transmitem a linha de lógica e coerência (da personagem) de forma clara e definida. (…) As palavras são parte (…) da corporificação externa da essência interior de um papel (…). Subtexto é tudo aquilo que o ator estabelece como pensamento (e motivação) do personagem antes, depois e durante as falas do texto. (Stanislavsky, 1997, p. 175 e 176)Cquote2.png


Cquote1.pngO subtexto é uma espécie de comentário efetuado pela encenação e pelo jogo do ator, dando ao espectador a iluminação necessária à boa recepção do espetáculo (Stanislavsky 1963, 1966)Cquote2.png

.
Aquilo que não está escrito explicitamente no texto dramático e é colocado a partir do entendimento do texto pelo ator. O subtexto estabelece o estado motivacional da personagem e também uma distância entre o que é dito no texto e o que é mostrado pela cena. podendo inclusive contradizer ou aprofundar aquilo que a personagem está realizando.

 Legado e atores

Charlie Chaplin disse, sobre Stanislavsky:
O livro de Stanislavski, "A preparação do ator", pode ajudar todas as pessoas, mesmo longe da arte dramática."
Stanislavski lutou por facilitar o trabalho do ator. Mas, acima de tudo, declarou:
"Crie seu próprio método. Não seja dependente, um escravo. Faça somente algo que você possa construir. Mas observe a tradição da ruptura, eu imploro."
O Actors Studio, em Nova Iorque, é uma das principais escolas que desenvolve uma particular forma de compreender o sistema que se tornou conhecida como Método, com grande ênfase no aspecto psicológico da construção da personagem. Entre muitos atores de cinema que participaram desta escola temos: Jack Nicholson, Marilyn Monroe, James Dean, Marlon Brando, Montgomery Clift, Steve McQueen, Paul Newman, Warren Beatty, Geraldine Page, Dustin Hoffman, Robert De Niro, Al Pacino, Jane Fonda, Benicio Del Toro, Mark Ruffalo, Johnny Depp e Sean Penn.

 Obras

português
  • A Preparação do Ator. Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1964.
  • A Construção da Personagem. Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1970
  • A Criação de um Papel. Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1972
  • Minha Vida na Arte. Tradução de Paulo Bezerra (do original russo). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1989.
russo
  • Moia Zhizn v Iskusstve (Minha Vida na Arte). 1925.
  • Rabota Aktera nad Soboj - v tvortsheskom protsesse perezhivanie. Tshast I (O Trabalho do Ator sobre si Mesmo - Parte 1) 1938.
  • Rabota Aktera nad Soboj - v tvortsheskom protsesse voploshshenija. Tshast II (O Trabalho do Ator sobre si Mesmo - Parte 2) 1948.
  • Rabota Aktera nad Rolju (O Trabalho do Ator sobre seu Papel). 1957
  • My Life in Art. Moscou. Foreign Languages Publishing. House, 1963 (publicado na URSS).
  • Sobranie sotshinenii (Obras Completas) 1951-1964. 8 vols.
  • Sobranie sotshinenii (Obras Completas) segunda edição 1988-1999. 9 vols.
espanhol
Estas publicações foram feitas diretamente da ed. russa e seu conteúdo difere das traduções ao português.
Há outras traduções ao espanhol que seguem a versão norte-americana de Hapgood.
  • El Trabajo del Actor Sobre su Papel. Tradução de Salomón Merener. Buenos Aires: Quetzal.1977.
  • El Trabajo del Actor Sobre Sí Mismo en el Proceso Creador de las Vivencias. Tradução de Salomón Merener. Buenos Aires: Quetzal. 1980
  • Mi Vida en el Arte. Tradução de Salomón Merener. Buenos Aires: Quetzal 1981
  • El Trabajo del Actor Sobre Sí Mismo en el Proceso Creador de la Encarnación. Tradução de Salomón Merener. Buenos Aires: Quetzal. 1983
  • Correspondencia. Tradução de Salomón Merener Buenos Aires: Quetzal.
inglês
Começam a ser publicadas versões completas de acordo com os originais russos.
  • My Life in Art Tradução Jean Benedetti, Routledge London and New
York 2008.
  • An Actor's Work. a Student's Diary. Tradução de Jean Benedetti unificando os dois volumes, seguindo o original russo 2009.
  • An Actor’s Work on a Role. Tradução de Jean Benedetti 2009.
alemão
Franco Ruffini aponta a edição alemã-oriental das obras completas, como outra edição “fiel” aos originais russos no ocidente
  • Bühne der Wahrheit.

 Livros e teses sobre Stanislavski

  • ASLAN, Odete. O Ator no Século XX. São Paulo: Perspectiva, 2006.
  • BONFITTO, Matteo. O Ator Compositor. São Paulo: Perspectiva.
  • DAGOSTINI, Nair. tese doutorado O método de análise ativa de K. Stanislávski Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP)
  • GUINSBURG, Jacó. Stanislavski, Meierhold e Cia. São Paulo: Perspectiva.
  • GUINSBURG, Jacó. Stanislavski e o Teatro de Arte de Moscou. São Paulo: Perspectiva.
  • RIPELLINO, Angelo Maria. O Truque e a Alma. Tradução de Roberta Barni. São Paulo: Perspectiva.
  • RIZZO, Eraldo Pera. Ator e Estranhamento: Brecht e Stanislavski, Segundo Kusnet. São Paulo: Senac, 2001.
  • TAKEDA, Cristiane Layher. O Cotidiano de uma Lenda. São Paulo: Perspectiva.

 Artigos sobre Stanislavski

Fonte : Wikipédia, a enciclopédia livre.

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