sexta-feira, 19 de outubro de 2012

De coronel Ramiro a analfabeto digital: Antônio Fagundes em cartaz no Recife Ator e galã global contracena com o filho Bruno na peça Vermelho


Coração aos pulos, dali a instantes entrevistaria por telefone Antonio Fagundes, um dos grandes nomes do teatro e da teledramaturgia brasileira. Era um dia de meio feriado, com escolas e parte do comércio fechados, pelo Dia do Professor e dos Comerciários. Corri atrás das informações sobre a peça que ele traz nesta sexta-feira e neste sábado ao Teatro da UFPE, chamada Vermelho. Fiz a listinha de perguntas, conectei o gravador ao telefone da sala de entrevistas e pronto: seríamos eu e o ícone da interpretação.

Viajamos ao teatro e à ideia corajosa de Fagundes de que as pessoas que buscam as peças precisam de textos inteligentes e desafiadores, mesmo em tempos de culto às celebridades. O ator de 63 anos acha engraçado quando lhe classificam como galã. Diz que nunca lutou pelo epíteto, mas não liga se acham que ele continua um coroa charmoso e bonitão. “Não posso interferir, mas acho bonitinho”, brinca. E se diverte interpretando o poderoso e conservador coronel Ramiro do remake de Gabriela, bem mais velho e gordo que ele. “Me deixaram colocar sobrancelhas, bigode, berruga. Quase não há espaço para isso na televisão”, admite Fagundes, que também não se preocupa em estar fazendo um remake e não a série original. “Daqui a 35 anos, quem vai se lembrar desta versão de Gabriela de agora?”, desafia o ator, analfabeto digital assumido (“sou analfabyte”), daqueles que não têm computador e costumam deixar o celular providencialmente desligado.

PEÇA
Um dos pontos fundamentais na construção da peça que leva em turnê pelo Brasil, depois da estreia bem-sucedida em São Paulo, foi que ele e o filho, Bruno, tiveram quase um ano de ensaios, antes de encarar a plateia. “A gente estudou um pouco mais, viajou para visitar museus no exterior onde estão obras do Mark Rothko, fez uma preparação bem tranquila e gostosa”, revela Fagundes, que fez até aulas de técnica de pintura para o papel do genial pintor russo de origem judia naturalizado norte-americano, expoente do expressionismo abstrato.

Na fase em que se passa a trama, Rothko estava ocupado em elaborar os aclamados Seagram's Murals, a pedido do restaurante Four Seasons, em Nova York. Ele ganha uma quantia recorde em dinheiro para assinar os trabalhos, mas entra em crise ao pensar que as telas adornariam um lugar frequentado por grã-finos metidos, que nunca lhes dariam o devido valor. Hoje, os quadros estão espalhados nos acervos da Tate Modern de Londres, do Kawamura Memorial Museum of Art, no Japão, e do National Gallery of Art, em Washington.
Pai de quatro filhos, o ator veterano conta que é fascinante perceber em Bruno, de 22 anos - fruto do relacionamento com a também atriz Mara Carvalho - a mesma paixão pela profissão da qual comunga. Ken, o jovem assistente de Rothko e aspirante a artista é o primeiro papel profissional de maior destaque na carreira do rapaz, que faz cursos de artes cênicas desde os 13 anos e cresceu nas coxias dos teatros, acompanhando o pai, assim como os irmãos. Mas foi o único a demonstrar interesse em interpretar. “Procurei que eles fossem felizes, cada um em seus caminhos”, assegura Fagundes, que também é pai de Dinah, Diana e Antônio.

Felicidade que Mark Rothko nunca alcançou. O artista evoluiu o estilo até chegar à utilizar apenas uma cor nas telas, tendo seu nome hoje relacionado à pintura minimalista. Ele se suicidou em Nova York, em 1970, depois de receber de volta um dos oito trabalhos que compõem o Seagram's Mural.

E como terminou a conversa com o Fagundes? Pergunto o que ele pensa sobre as novas mídias e se elas auxiliam na divulgação dos espetáculos teatrais. Ele compartilha da teoria. “O que acontece na internet fica na internet. A peça fica muito conhecida, falada, comentada, mas as pessoas não foram ver, ficam tantas horas na frente do computador que não se dão ao trabalho de sair de casa para ir ao teatro”. Recado dado: desligue o computador, bloqueie o celular e dê um pulinho na peça!

SERVIÇO
Espetáculo Vermelho, com Antonio Fagundes e Bruno Fagundes
Onde: Teatro da UFPE (Campus Universitário)
Quando: Sexta, às 21h. Sábado, às 20h30
Quanto: R$ 120 e R$ 60 (meia-entrada), na plateia especial; R$ 100 e R$ 50, plateia; R$ 80 e R$ 40, balcão
Classificação etária: 12 anos
Duração: 80 minutos
Informações: (81) 3207-5757

Fonte: Pernambuco.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário