sábado, 28 de abril de 2012

Penúltima semana de “LEVE” no Hermilo com apresentações nesta quarta, quinta, sexta e sábado


“...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.”


(Trecho de Presença – Mário Quintana)
Poema presente no espetáculo LEVE nas
vozes de Maria Agrelli e Renata Muniz

Nestas duas últimas semanas da temporada do espetáculo “LEVE” no Teatro Hermilo Borba Filho, novos dias de apresentações entram na agenda. A premiada montagem, que já passou por 15 estados brasileiros e foi vista por mais de 5 mil pessoas do País, estará em cartaz nesta quarta ( 25), quinta (26), sexta (27) e sábado (28). E ainda nos dias 02, 03 e 04 de maio. Sempre às 19h.
O projeto, aprovado pelo FUNCULTURA, incluiu também oficinas de dança para pessoas com deficiência visual e auditiva ao longo deste mês e mais, no dia 06 de maio, no Centro Cultural Correios, às 16h, o projeto se desdobra com a realização de um debate aberto, como parte da programação do Festival Palco Giratório, sobre a acessibilidade comunicacional nas artes, com a presença da atriz, consultora de acessibilidade e audiodescritora Andreza Nóbrega, cuja dissertação de mestrado está focada no tema, e do professor Francisco José de Lima, coordenador do Centro de Estudos Inclusivos (CEI/UFPE); idealizador/editor da Revista Brasileira de Tradução Visual (www.rbtv.associadosda inclusao.com.br); membro internacional do Tactile Research Group (TRG-USA); pesquisador nas áreas de acessibilidade e das barreiras atitudinais contra as pessoas com deficiência, principalmente nos ambientes físicos e sociais, no trabalho, na educação e no lazer; entre outras atividades.
“LEVE” é um convite à beleza de despertar todos os sentidos no compartilhamento de um momento inteiro, que através da arte da dança e da poesia traduz a leveza e dureza de sermos nós, com nossas dores, saudades e os voos e quedas que nos cabem. Os cheiros desenvolvidos e trabalhados especialmente para criar uma atmosfera única entre artistas e público, o tato, o olhar, a música belíssima na trilha assinada por Isaar França, o poema de Mário Quintana na voz das bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz no centro da mandala desenhada no chão, o gosto do encontro que fica no contato de nos percebermos assim, simplesmente e maravilhosamente humanos.
Durante a temporada no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Lugar Comum aproxima “LEVE” também das pessoas com deficiência visual e auditiva através de um projeto completo de acessibilidade desenvolvido em parceria com a consultoria VouVer e a experiência se multiplica e nos coloca diante de algo verdadeiramente sublime. Logo na entrada, o programa está disponível também em braile, é já o sinal de que o acessível se faz em cada detalhe. Durante a apresentação, ao vivo e em tempo real, o pessoal da VouVer traz a participação de um intérprete de LIBRAS que vai traduzindo música e palavras ali, na hora, compondo uma outra dança, despertando em todos outros sentidos. Do outro lado da sala, a audiodescritora protegida por uma cabine acústica recita na hora a poesia dos corpos que se apresentam, transmitindo através de aparelhos de audiodescrição que estão disponíveis para pessoas com deficiência visual a riqueza da encenação em cada detalhe; movimentos, iluminação, figurino...
A beleza de dançar para um público amplo, incluindo pessoas com deficiência visual e auditiva, presenças diversas, criando outras percepções e novos sentidos e sentimentos na troca com a plateia e também no corpo do bailarino. A nova temporada do premiado espetáculo de dança “LEVE”, encenado pelas bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli, do Coletivo Lugar Comum, começou em março, no Hermilo Borba Filho, com uma proposta inovadora. Todas as sessões contam com audiodescrição e intérprete de LIBRAS, levantando a discussão valiosa e urgente sobre a acessibilidade nas artes, com um debate aberto a artistas, educadores e ao público em geral no final do percurso. Em todas elas há 30 equipamentos de audiodescrição, proporcionando a tradução intersemiótica do que está sendo visto em palavras que descrevem objetivamente os movimentos e a interpretação das meninas, luz, cenário, figurinos, tudo especialmente e poeticamente pensado para as pessoas com deficiência visual, ao vivo e em tempo real. Além de um intérprete de LIBRAS que ensaiou todo o texto falado e as letras das músicas junto com as bailarinas para integrar ao espetáculo a tradução simultânea na linguagem dos sinais. O trabalho de consultoria e desenvolvimento do projeto de acessibilidade é da VouVer, da atriz Andreza Nóbrega e da psicóloga Liliana Tavares, ambas consultoras em acessibilidade e audiodescritoras.
 “LEVE foi o primeiro espetáculo de dança em Pernambuco a contar com o recurso da audiodescrição, durante uma das apresentações do Palco Giratório, em 2010. Agora fica marcado também como o primeiro a realizar uma temporada inteira com esse pensamento que integra a arte e a acessibilidade comunicacional com audiodescrição e LIBRAS na concepção de cada uma das sessões”, explica Andreza Nóbrega. Ela diz que em teatro já há mais iniciativas, mas em dança ainda são poucos os grupos que se concentram no debate. “Mas tudo isso vai mudando aos poucos. A orientação sobre a importância da acessibilidade ressaltada nos próprios editais, como é o caso do FUNCULTURA, tem feito os coletivos e artistas planejarem seus espetáculos com essa prioridade”, completa Liliana Tavares.
“A audiodescrição em dança tem que dançar com o corpo no palco, porque é movimento”, destaca Andreza com o brilho nos olhos de quem fala com paixão sobre a sua luta e suas conquistas. Para Liliana “é um processo muito rico. Cada obra é nova, cada trabalho é único, seja teatro, ópera, dança, cada espetáculo é único”.
Nas sessões de LEVE, as pessoas com deficiência visual vêm fazendo um tour tátil antes do início de cada espetáculo, complementando as informações percebidas e agregando ao que é ouvido as texturas, temperaturas, desenhos no espaço e outras informações do cenário e figurinos das bailarinas.
Para Maria Agrelli e Renata Muniz, a experiência tem dado a chance de perceber a criação a partir de novos olhares, além da emoção de ver o trabalho artístico tocar cada vez mais pessoas. “Durante a pesquisa de LEVE vimos que o último sentido que a gente perde quando morre é a audição e por isso no final, saímos do palco e a música continua tocando e fica ali, a música e o espaço, por muito tempo. Agora, pensando nas pessoas com deficiência auditiva, o nosso próprio universo ganha outras cores e outros sentidos”, diz Maria Agrelli.
Segundo dados do Censo 2000 do IBGE, existe uma média de 148 mil cegos e 166 mil surdos no Brasil, estando na região Nordeste a maior parcela dessa população (16,8%). Partindo do pressuposto de que a arte e a cultura são direito de todos e que o acesso democrático aos bens culturais é fator de identificação social do qual as pessoas com deficiência visual e auditiva fazem parte, a acessibilidade comunicacional consiste na eliminação de barreiras que impedem a comunicação. No Brasil o debate ganhou novos horizontes desde 2000, por meio da promulgação da Lei Federal nº 10.098 sobre acessibilidade comunicacional e sua regulamentação em Dezembro de 2004 pelo Decreto Federal 5.296.
LEVE foi concebido e montado em 2009, reunindo artistas recifenses em um espetáculo de dança que traz novos conceitos para a cena, promovendo a integração entre movimento, música, cenário e iluminação.  É um espetáculo que proporciona ao público um ambiente poético e intimista, e comove por tratar de temas tão recorrentes à condição humana: a morte, as perdas, as saudades. As sensações de impotência, dor, raiva, angústia, vazio, alívio se mesclam nas cenas, desveladas pelos corpos das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. A montagem estreou nacionalmente em junho de 2009, com uma trajetória de sucesso e premiações, incluindo melhor espetáculo júri oficial e popular, trilha sonora, iluminação, cenografia e bailarina no Prêmio APACEPE de Teatro e Dança de 2010. Participou do Festival Palco Giratório circulando por 15 estados diferentes, foi visto em 33 cidades do Brasil. Desde sua estreia já foi assistido por mais de 5 mil pessoas.

LEVE – NOVA TEMPORADA – ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES

QUANDO?
25, 26, 27 E 28 DE ABRIL
02, 03 E 04 DE MAIO

ONDE?
TEATRO HERMILO BORBA FILHO
SEMPRE ÀS 19H

QUANTO?
R$ 5,00 (PREÇO ÚNICO)

FICHA TÉCNICA (criação)

Concepção, criação e coreografia:
Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de Coreografia: Liana Gesteira
Consultoria Artística: Valéria Vicente e Maria Clara Camarotti
Laboratórios Criativos: Liana Gesteira
Preparação Vocal: Conrado Falbo
Pesquisa Teórica e Diário de Criação: Renata Pimentel
Trilha Sonora Original: Isaar
Iluminação Criação e Execução: Luciana Raposo
Figurino Criação: Maria Agrelli
Figurino Execução: Maria Lima
Cenário Criação e Design Gráfico: Isabella Aragão e Luciana De Mari
Cenário Execução: Isabella Aragão, Luciana De Mari e Martiniano Almeida
Fotos: Breno César

FICHA TÉCNICA (NOVA temporada)

Bailarinas: Maria Agrelli e Renata Muniz
Preparação Corporal: Luiz Roberto da Silva, Victor Monteiro Ramos (Pilates)
Operação de luz: Luciana Raposo e Rodrigo Oliveira
Cenotécnico e Operador de Som: Almir Negreiros
Produção Geral: Comum de 3 Produções Artísticas e Carminha Lins
Produção Executiva: Grão – Comunicação e Cultura (Rute Pajeú)
Assessoria de Imprensa: Íntegra Cooperativa de Notícias
Projeto de Acessibilidade Comunicacional: VouVer Acessibilidade Cultural
Consultoria em Acessibilidade: Andreza Nóbrega
Roteiro de audiodescrição: Andreza Nóbrega
Locução da audiodescrição: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares
Intérprete de Libras: Ernani Ribeiro e Anderson Tavares


PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
(Mário Quintana)

Fonte: Coletivo Lugar comum (Silvinha Góes)

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