“...E eu tenho de fechar meus olhos
para ver-te.”
(Trecho de Presença – Mário
Quintana)
Poema presente no espetáculo LEVE
nas
vozes de Maria Agrelli e Renata
Muniz
Nestas duas
últimas semanas da temporada do espetáculo “LEVE” no Teatro Hermilo Borba Filho,
novos dias de apresentações entram na agenda. A premiada montagem, que já passou
por 15 estados brasileiros e foi vista por mais de 5 mil pessoas do País, estará
em cartaz nesta quarta ( 25), quinta (26), sexta (27) e sábado (28). E ainda nos
dias 02, 03 e 04 de maio. Sempre às 19h.
O projeto,
aprovado pelo FUNCULTURA, incluiu também oficinas de dança para pessoas com
deficiência visual e auditiva ao longo deste mês e mais, no dia 06 de maio, no
Centro Cultural Correios, às 16h, o projeto se desdobra com a realização de um
debate aberto, como parte da programação do Festival Palco Giratório, sobre a
acessibilidade comunicacional nas artes, com a presença da atriz, consultora de
acessibilidade e audiodescritora Andreza Nóbrega, cuja dissertação de mestrado
está focada no tema, e do professor Francisco José de Lima, coordenador do
Centro de Estudos Inclusivos (CEI/UFPE); idealizador/editor da Revista
Brasileira de Tradução Visual (www.rbtv.associadosda inclusao.com.br); membro
internacional do Tactile Research Group (TRG-USA); pesquisador nas áreas de
acessibilidade e das barreiras atitudinais contra as pessoas com deficiência,
principalmente nos ambientes físicos e sociais, no trabalho, na educação e no
lazer; entre outras atividades.
“LEVE” é um
convite à beleza de despertar todos os sentidos no compartilhamento de um
momento inteiro, que através da arte da dança e da poesia traduz a leveza e
dureza de sermos nós, com nossas dores, saudades e os voos e quedas que nos
cabem. Os cheiros desenvolvidos e trabalhados especialmente para criar uma
atmosfera única entre artistas e público, o tato, o olhar, a música belíssima na
trilha assinada por Isaar França, o poema de Mário Quintana na voz das
bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz no centro da mandala desenhada no chão,
o gosto do encontro que fica no contato de nos percebermos assim, simplesmente e
maravilhosamente humanos.
Durante a
temporada no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Lugar Comum aproxima “LEVE” também
das pessoas com deficiência visual e auditiva através de um projeto completo de
acessibilidade desenvolvido em parceria com a consultoria VouVer e a experiência
se multiplica e nos coloca diante de algo verdadeiramente sublime. Logo na
entrada, o programa está disponível também em braile, é já o sinal de que o
acessível se faz em cada detalhe. Durante a apresentação, ao vivo e em tempo
real, o pessoal da VouVer traz a participação de um intérprete de LIBRAS que vai
traduzindo música e palavras ali, na hora, compondo uma outra dança, despertando
em todos outros sentidos. Do outro lado da sala, a audiodescritora protegida por
uma cabine acústica recita na hora a poesia dos corpos que se apresentam,
transmitindo através de aparelhos de audiodescrição que estão disponíveis para
pessoas com deficiência visual a riqueza da encenação em cada detalhe;
movimentos, iluminação, figurino...
A beleza de
dançar para um público amplo, incluindo pessoas com deficiência visual e
auditiva, presenças diversas, criando outras percepções e novos sentidos e
sentimentos na troca com a plateia e também no corpo do bailarino. A nova
temporada do premiado espetáculo de dança “LEVE”, encenado pelas bailarinas
Renata Muniz e Maria Agrelli, do Coletivo Lugar Comum, começou em março, no
Hermilo Borba Filho, com uma proposta inovadora. Todas as sessões contam com
audiodescrição e intérprete de LIBRAS, levantando a discussão valiosa e urgente
sobre a acessibilidade nas artes, com um debate aberto a artistas, educadores e
ao público em geral no final do percurso. Em todas elas há 30 equipamentos de
audiodescrição, proporcionando a tradução intersemiótica do que está sendo visto
em palavras que descrevem objetivamente os movimentos e a interpretação das
meninas, luz, cenário, figurinos, tudo especialmente e poeticamente pensado para
as pessoas com deficiência visual, ao vivo e em tempo real. Além de um
intérprete de LIBRAS que ensaiou todo o texto falado e as letras das músicas
junto com as bailarinas para integrar ao espetáculo a tradução simultânea na
linguagem dos sinais. O trabalho de consultoria e desenvolvimento do projeto de
acessibilidade é da VouVer, da atriz Andreza Nóbrega e da psicóloga Liliana
Tavares, ambas consultoras em acessibilidade e
audiodescritoras.
“LEVE foi o primeiro espetáculo de dança
em Pernambuco a contar com o recurso da audiodescrição, durante uma das
apresentações do Palco Giratório, em 2010. Agora fica marcado também como o
primeiro a realizar uma temporada inteira com esse pensamento que integra a arte
e a acessibilidade comunicacional com audiodescrição e LIBRAS na concepção de
cada uma das sessões”, explica Andreza Nóbrega. Ela diz que em teatro já há mais
iniciativas, mas em dança ainda são poucos os grupos que se concentram no
debate. “Mas tudo isso vai mudando aos poucos. A orientação sobre a importância
da acessibilidade ressaltada nos próprios editais, como é o caso do FUNCULTURA,
tem feito os coletivos e artistas planejarem seus espetáculos com essa
prioridade”, completa Liliana Tavares.
“A
audiodescrição em dança tem que dançar com o corpo no palco, porque é
movimento”, destaca Andreza com o brilho nos olhos de quem fala com paixão sobre
a sua luta e suas conquistas. Para Liliana “é um processo muito rico. Cada obra
é nova, cada trabalho é único, seja teatro, ópera, dança, cada espetáculo é
único”.
Nas sessões de
LEVE, as pessoas com deficiência visual vêm fazendo um tour tátil antes do
início de cada espetáculo, complementando as informações percebidas e agregando
ao que é ouvido as texturas, temperaturas, desenhos no espaço e outras
informações do cenário e figurinos das bailarinas.
Para Maria
Agrelli e Renata Muniz, a experiência tem dado a chance de perceber a criação a
partir de novos olhares, além da emoção de ver o trabalho artístico tocar cada
vez mais pessoas. “Durante a pesquisa de LEVE vimos que o último sentido que a
gente perde quando morre é a audição e por isso no final, saímos do palco e a
música continua tocando e fica ali, a música e o espaço, por muito tempo. Agora,
pensando nas pessoas com deficiência auditiva, o nosso próprio universo ganha
outras cores e outros sentidos”, diz Maria Agrelli.
Segundo dados do Censo 2000 do IBGE, existe uma média de 148 mil
cegos e 166 mil surdos no Brasil, estando na região Nordeste a maior parcela
dessa população (16,8%). Partindo do pressuposto de que a arte e a cultura são
direito de todos e que o acesso democrático aos bens culturais é fator de
identificação social do qual as pessoas com deficiência visual e auditiva fazem
parte, a acessibilidade comunicacional consiste na eliminação de barreiras que
impedem a comunicação. No Brasil o debate ganhou novos horizontes desde 2000,
por meio da promulgação da Lei Federal nº 10.098 sobre acessibilidade
comunicacional e sua regulamentação em Dezembro de 2004 pelo Decreto Federal
5.296.
LEVE foi concebido e montado em 2009, reunindo artistas recifenses
em um espetáculo de dança que traz novos conceitos para a cena, promovendo a
integração entre movimento, música, cenário e iluminação. É um espetáculo que proporciona ao
público um ambiente poético e intimista, e comove por tratar de temas tão
recorrentes à condição humana: a morte, as perdas, as saudades. As sensações de
impotência, dor, raiva, angústia, vazio, alívio se mesclam nas cenas, desveladas
pelos corpos das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. A
montagem estreou nacionalmente em junho de 2009, com uma trajetória de sucesso e
premiações, incluindo melhor espetáculo júri oficial e popular, trilha sonora,
iluminação, cenografia e bailarina no Prêmio APACEPE de Teatro e Dança de 2010.
Participou do Festival Palco Giratório circulando por 15 estados diferentes, foi
visto em 33 cidades do Brasil. Desde sua estreia já foi assistido por mais de 5
mil pessoas.
LEVE –
NOVA TEMPORADA – ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES
QUANDO?
25, 26,
27 E 28 DE ABRIL
02, 03 E
04 DE MAIO
ONDE?
TEATRO
HERMILO BORBA FILHO
SEMPRE
ÀS 19H
QUANTO?
R$ 5,00
(PREÇO ÚNICO)
FICHA TÉCNICA (criação)
Concepção, criação e coreografia:
Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de Coreografia: Liana
Gesteira
Consultoria Artística: Valéria Vicente e Maria Clara
Camarotti
Laboratórios Criativos: Liana Gesteira
Preparação Vocal: Conrado Falbo
Pesquisa Teórica e Diário de Criação: Renata
Pimentel
Trilha Sonora Original: Isaar
Iluminação Criação e Execução: Luciana
Raposo
Figurino Criação: Maria Agrelli
Figurino Execução: Maria Lima
Cenário Criação e Design Gráfico: Isabella Aragão e Luciana De
Mari
Cenário Execução: Isabella Aragão, Luciana De Mari e Martiniano
Almeida
Fotos: Breno César
FICHA TÉCNICA (NOVA temporada)
Bailarinas: Maria Agrelli e Renata
Muniz
Preparação Corporal: Luiz Roberto da Silva, Victor Monteiro Ramos
(Pilates)
Operação de luz: Luciana Raposo e Rodrigo
Oliveira
Cenotécnico e Operador de Som: Almir
Negreiros
Produção Geral: Comum de 3 Produções Artísticas e Carminha
Lins
Produção Executiva: Grão – Comunicação e Cultura (Rute
Pajeú)
Assessoria de Imprensa: Íntegra Cooperativa de
Notícias
Projeto de Acessibilidade Comunicacional: VouVer
Acessibilidade Cultural
Consultoria em Acessibilidade: Andreza
Nóbrega
Roteiro de audiodescrição: Andreza
Nóbrega
Locução da audiodescrição: Andreza Nóbrega e Liliana
Tavares
Intérprete de Libras: Ernani Ribeiro e Anderson
Tavares
PRESENÇA
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
(Mário
Quintana)
Fonte: Coletivo Lugar comum (Silvinha Góes)
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