terça-feira, 30 de agosto de 2011

LOUCURA E TEATRO‏ -




Pacientes com transtornos psicóticos mostram no palco as relações entre a vida e a arte em encenação especial de “Diário de um Louco” no Teatro Barreto Júnior 

“O teatro é a loucura permitida pela sociedade.”
(Fernanda Montenegro)


Wilma, Beto, Victor, Paula, têm muito em comum. São todos portadores de transtornos psicóticos graves, todos lutadores em busca da ressocialização e todos estarão nos próximos dias atravessando mais uma fronteira e participam no palco do Teatro Barreto Júnior, de uma encenação especial para o público pernambucano de “Diário de um Louco”, da obra de Nikolai Gógol. Ao todo mais de 20 pacientes do CAPS Casa Forte e do Núcleo de Atenção Psicossocial de Pernambuco (NAPPE) foram preparados, desde o início do ano, pelo ator Carlos Mesquita, que já leva no currículo mais de 400 apresentações do texto ao redor do mundo, mas que pela primeira vez dividirá o palco de um teatro de verdade com aqueles que têm uma relação realmente íntima com o mundo da loucura. No mês de abril o grupo fez uma única apresentação no Espaço MUDA e a partir da experiência novos elementos foram incorporados para esta encenação no Barreto Júnior. O espetáculo poderá ser visto NESTA QUARTA, dia 31 de agosto, às 19h30, no Barreto Júnior, com ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00.
            “Não sei se todos estarão na encenação, depende de uma série de fatores pessoais de cada um, mas a maioria deles está numa felicidade imensa pela possibilidade”, diz Carlos Mesquita, que tem mais de 30 anos de teatro, sendo 25 de vivências diferentes ao redor do planeta encenando “Diário de um Louco”, mas que também considera que está vivendo uma nova estreia. O texto de Gógol, que narra com muito bom humor as desventuras de um funcionário público que literalmente enlouquece, foi interpretado pela primeira vez por Carlos Mesquita no Teatro Santa Isabel, em 1986, numa adaptação de Rubem Rocha Filho, com direção de Zdenek Hampl e cenografia e figurino de Uziel Lima. “Essa apresentação, um desafio para mim, não deixa de ser uma homenagem aos três”, declara. Mesquita se diz um amante do texto de Gógol e não é à toa que ao longo de sua carreira calcula mais de 400 apresentações da peça no Brasil e também em outros países, como Argentina e Alemanha.
            O projeto que poderá ser visto no Barreto Júnior começou a partir de um convite do psiquiatra Marcos Noronha, fundador do CAPS Casa Forte e NAPPE, amigo do ator, que decidiu chamá-lo para fazer uma apresentação do monólogo para os usuários dos dois centros de convivência. “O projeto foi se desdobrando com a participação também da arteterapeuta Patrícia Barreto, que cuida das oficinas terapêuticas de teatro no CAPS Casa Forte e NAPPE há cerca de três anos”, esclarece Noronha. “As reações dos usuários são imediatas, há uma resposta positiva no que diz respeito à percepção dos outros que nos constituem a todos e também na relação de pertencimento. O teatro oferece a chance de perceber que você pode sim ser um personagem sem deixar de ser você, viver os múltiplos sem perder a essência. Os usuários têm entendimento e conseguem perceber que é uma história contada, que fala da loucura, que passa e se encontra com a história deles, mas conseguem manter a distância. No tratamento, acredito que os aplausos serão curativos sim porque a auto-estima é um resgate importantíssimo no processo”, explica Patrícia. “Essa será a segunda vez que levamos o teatro para fora das portas do centro de convivência, permitindo o compartilhamento desta vivência com as pessoas que não necessariamente tenham uma aproximação com o universo real destes pacientes. A primeira foi no Espaço MUDA, em abril, mas agora eles estarão oficialmente num palco de teatro”, completa.
            O convite para a encenação terminou se transformando numa oficina e durante a oficina Carlos Mesquita propôs o desafio de levar os usuários para a cena. Agora chegou a hora de o público poder vivenciar parte da beleza dos resultados. Grande parte dos adereços de cena foi confeccionada pelos pacientes durante os encontros e no palco eles atuarão numa figuração especial, como contra-regras, terão também algumas falas e interpretarão as reações em contato com o personagem principal através de um coro. “É como se eles estivessem dentro de um contexto de seus contextos”, diz Mesquita.
             
SOBRE OS SERVIÇOS - Oferecendo opções de tratamento intensivo, semi-intensivo e não intensivo, o CAPS Casa Forte entrou em funcionamento em janeiro de 2002, fundado pela psicóloga e arteterapeuta Cristina Lopes e pelo psiquiatra Marcos Noronha inspirado no modelo já oferecido pelo Núcleo de Atenção Psicossocial de Pernambuco (NAPPE), criado há 18 anos também por Marcos Noronha e que é o mais antigo centro de atenção psicossocial de Pernambuco.
Os programas de tratamento incluem aulas de yoga, terapias corporais como massagens, oficinas de música, pintura, fotografia, argila, aulas de Tai Chi Chuan e outras atividades, todas voltadas para pacientes com distúrbios psicóticos, passando pelas neuroses graves, até transtornos alimentares e outras doenças da modernidade.
O CAPS Casa Forte e NAPPE têm como objetivo prestar atendimento psiquiátrico diferenciado, seguindo uma postura de reeducação e oferecendo um serviço de atenção e reabilitação no sistema de hospital dia.


Serviço:
Diário de um Louco
Com Carlos Mesquita e pacientes do CAPS Casa Forte e NAPPE
Nesta quarta - 31/08
Horário: 19h30
Local: Teatro Barreto Júnior
Ingressos no local: R$ 10,00 e R$ 5,00

Contatos:

Carlos Mesquita – 9991.6296
Patrícia Barreto – 8837.8398
Marcos Noronha - 9145.8798

Fonte: Silvinha Góes.


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