sábado, 28 de abril de 2012

Penúltima semana de “LEVE” no Hermilo com apresentações nesta quarta, quinta, sexta e sábado


“...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.”


(Trecho de Presença – Mário Quintana)
Poema presente no espetáculo LEVE nas
vozes de Maria Agrelli e Renata Muniz

Nestas duas últimas semanas da temporada do espetáculo “LEVE” no Teatro Hermilo Borba Filho, novos dias de apresentações entram na agenda. A premiada montagem, que já passou por 15 estados brasileiros e foi vista por mais de 5 mil pessoas do País, estará em cartaz nesta quarta ( 25), quinta (26), sexta (27) e sábado (28). E ainda nos dias 02, 03 e 04 de maio. Sempre às 19h.
O projeto, aprovado pelo FUNCULTURA, incluiu também oficinas de dança para pessoas com deficiência visual e auditiva ao longo deste mês e mais, no dia 06 de maio, no Centro Cultural Correios, às 16h, o projeto se desdobra com a realização de um debate aberto, como parte da programação do Festival Palco Giratório, sobre a acessibilidade comunicacional nas artes, com a presença da atriz, consultora de acessibilidade e audiodescritora Andreza Nóbrega, cuja dissertação de mestrado está focada no tema, e do professor Francisco José de Lima, coordenador do Centro de Estudos Inclusivos (CEI/UFPE); idealizador/editor da Revista Brasileira de Tradução Visual (www.rbtv.associadosda inclusao.com.br); membro internacional do Tactile Research Group (TRG-USA); pesquisador nas áreas de acessibilidade e das barreiras atitudinais contra as pessoas com deficiência, principalmente nos ambientes físicos e sociais, no trabalho, na educação e no lazer; entre outras atividades.
“LEVE” é um convite à beleza de despertar todos os sentidos no compartilhamento de um momento inteiro, que através da arte da dança e da poesia traduz a leveza e dureza de sermos nós, com nossas dores, saudades e os voos e quedas que nos cabem. Os cheiros desenvolvidos e trabalhados especialmente para criar uma atmosfera única entre artistas e público, o tato, o olhar, a música belíssima na trilha assinada por Isaar França, o poema de Mário Quintana na voz das bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz no centro da mandala desenhada no chão, o gosto do encontro que fica no contato de nos percebermos assim, simplesmente e maravilhosamente humanos.
Durante a temporada no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Lugar Comum aproxima “LEVE” também das pessoas com deficiência visual e auditiva através de um projeto completo de acessibilidade desenvolvido em parceria com a consultoria VouVer e a experiência se multiplica e nos coloca diante de algo verdadeiramente sublime. Logo na entrada, o programa está disponível também em braile, é já o sinal de que o acessível se faz em cada detalhe. Durante a apresentação, ao vivo e em tempo real, o pessoal da VouVer traz a participação de um intérprete de LIBRAS que vai traduzindo música e palavras ali, na hora, compondo uma outra dança, despertando em todos outros sentidos. Do outro lado da sala, a audiodescritora protegida por uma cabine acústica recita na hora a poesia dos corpos que se apresentam, transmitindo através de aparelhos de audiodescrição que estão disponíveis para pessoas com deficiência visual a riqueza da encenação em cada detalhe; movimentos, iluminação, figurino...
A beleza de dançar para um público amplo, incluindo pessoas com deficiência visual e auditiva, presenças diversas, criando outras percepções e novos sentidos e sentimentos na troca com a plateia e também no corpo do bailarino. A nova temporada do premiado espetáculo de dança “LEVE”, encenado pelas bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli, do Coletivo Lugar Comum, começou em março, no Hermilo Borba Filho, com uma proposta inovadora. Todas as sessões contam com audiodescrição e intérprete de LIBRAS, levantando a discussão valiosa e urgente sobre a acessibilidade nas artes, com um debate aberto a artistas, educadores e ao público em geral no final do percurso. Em todas elas há 30 equipamentos de audiodescrição, proporcionando a tradução intersemiótica do que está sendo visto em palavras que descrevem objetivamente os movimentos e a interpretação das meninas, luz, cenário, figurinos, tudo especialmente e poeticamente pensado para as pessoas com deficiência visual, ao vivo e em tempo real. Além de um intérprete de LIBRAS que ensaiou todo o texto falado e as letras das músicas junto com as bailarinas para integrar ao espetáculo a tradução simultânea na linguagem dos sinais. O trabalho de consultoria e desenvolvimento do projeto de acessibilidade é da VouVer, da atriz Andreza Nóbrega e da psicóloga Liliana Tavares, ambas consultoras em acessibilidade e audiodescritoras.
 “LEVE foi o primeiro espetáculo de dança em Pernambuco a contar com o recurso da audiodescrição, durante uma das apresentações do Palco Giratório, em 2010. Agora fica marcado também como o primeiro a realizar uma temporada inteira com esse pensamento que integra a arte e a acessibilidade comunicacional com audiodescrição e LIBRAS na concepção de cada uma das sessões”, explica Andreza Nóbrega. Ela diz que em teatro já há mais iniciativas, mas em dança ainda são poucos os grupos que se concentram no debate. “Mas tudo isso vai mudando aos poucos. A orientação sobre a importância da acessibilidade ressaltada nos próprios editais, como é o caso do FUNCULTURA, tem feito os coletivos e artistas planejarem seus espetáculos com essa prioridade”, completa Liliana Tavares.
“A audiodescrição em dança tem que dançar com o corpo no palco, porque é movimento”, destaca Andreza com o brilho nos olhos de quem fala com paixão sobre a sua luta e suas conquistas. Para Liliana “é um processo muito rico. Cada obra é nova, cada trabalho é único, seja teatro, ópera, dança, cada espetáculo é único”.
Nas sessões de LEVE, as pessoas com deficiência visual vêm fazendo um tour tátil antes do início de cada espetáculo, complementando as informações percebidas e agregando ao que é ouvido as texturas, temperaturas, desenhos no espaço e outras informações do cenário e figurinos das bailarinas.
Para Maria Agrelli e Renata Muniz, a experiência tem dado a chance de perceber a criação a partir de novos olhares, além da emoção de ver o trabalho artístico tocar cada vez mais pessoas. “Durante a pesquisa de LEVE vimos que o último sentido que a gente perde quando morre é a audição e por isso no final, saímos do palco e a música continua tocando e fica ali, a música e o espaço, por muito tempo. Agora, pensando nas pessoas com deficiência auditiva, o nosso próprio universo ganha outras cores e outros sentidos”, diz Maria Agrelli.
Segundo dados do Censo 2000 do IBGE, existe uma média de 148 mil cegos e 166 mil surdos no Brasil, estando na região Nordeste a maior parcela dessa população (16,8%). Partindo do pressuposto de que a arte e a cultura são direito de todos e que o acesso democrático aos bens culturais é fator de identificação social do qual as pessoas com deficiência visual e auditiva fazem parte, a acessibilidade comunicacional consiste na eliminação de barreiras que impedem a comunicação. No Brasil o debate ganhou novos horizontes desde 2000, por meio da promulgação da Lei Federal nº 10.098 sobre acessibilidade comunicacional e sua regulamentação em Dezembro de 2004 pelo Decreto Federal 5.296.
LEVE foi concebido e montado em 2009, reunindo artistas recifenses em um espetáculo de dança que traz novos conceitos para a cena, promovendo a integração entre movimento, música, cenário e iluminação.  É um espetáculo que proporciona ao público um ambiente poético e intimista, e comove por tratar de temas tão recorrentes à condição humana: a morte, as perdas, as saudades. As sensações de impotência, dor, raiva, angústia, vazio, alívio se mesclam nas cenas, desveladas pelos corpos das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. A montagem estreou nacionalmente em junho de 2009, com uma trajetória de sucesso e premiações, incluindo melhor espetáculo júri oficial e popular, trilha sonora, iluminação, cenografia e bailarina no Prêmio APACEPE de Teatro e Dança de 2010. Participou do Festival Palco Giratório circulando por 15 estados diferentes, foi visto em 33 cidades do Brasil. Desde sua estreia já foi assistido por mais de 5 mil pessoas.

LEVE – NOVA TEMPORADA – ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES

QUANDO?
25, 26, 27 E 28 DE ABRIL
02, 03 E 04 DE MAIO

ONDE?
TEATRO HERMILO BORBA FILHO
SEMPRE ÀS 19H

QUANTO?
R$ 5,00 (PREÇO ÚNICO)

FICHA TÉCNICA (criação)

Concepção, criação e coreografia:
Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de Coreografia: Liana Gesteira
Consultoria Artística: Valéria Vicente e Maria Clara Camarotti
Laboratórios Criativos: Liana Gesteira
Preparação Vocal: Conrado Falbo
Pesquisa Teórica e Diário de Criação: Renata Pimentel
Trilha Sonora Original: Isaar
Iluminação Criação e Execução: Luciana Raposo
Figurino Criação: Maria Agrelli
Figurino Execução: Maria Lima
Cenário Criação e Design Gráfico: Isabella Aragão e Luciana De Mari
Cenário Execução: Isabella Aragão, Luciana De Mari e Martiniano Almeida
Fotos: Breno César

FICHA TÉCNICA (NOVA temporada)

Bailarinas: Maria Agrelli e Renata Muniz
Preparação Corporal: Luiz Roberto da Silva, Victor Monteiro Ramos (Pilates)
Operação de luz: Luciana Raposo e Rodrigo Oliveira
Cenotécnico e Operador de Som: Almir Negreiros
Produção Geral: Comum de 3 Produções Artísticas e Carminha Lins
Produção Executiva: Grão – Comunicação e Cultura (Rute Pajeú)
Assessoria de Imprensa: Íntegra Cooperativa de Notícias
Projeto de Acessibilidade Comunicacional: VouVer Acessibilidade Cultural
Consultoria em Acessibilidade: Andreza Nóbrega
Roteiro de audiodescrição: Andreza Nóbrega
Locução da audiodescrição: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares
Intérprete de Libras: Ernani Ribeiro e Anderson Tavares


PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
(Mário Quintana)

Fonte: Coletivo Lugar comum (Silvinha Góes)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Menino Sonhador | Teatro Infantil



Espetáculo com a Marcus Siqueira Produções Artísticas.
Musical infanto-juvenil trabalha o tema da ecologia: um garoto é rejeitado por outras crianças e tem um barquinho de papel como confidente.
Elenco: Marcus Siqueira Produções Artísticas
Direção: Didha Pereira
Gênero: Infantil
-
Horário: Sábados, às 16h, e domingos, às 10h
Entrada: Gratuito
Local: Espaço Cultural Professor José de Barros Lins - Avenida Professor Andrade Bezerra, 826, Salgadinho, Olinda
Informações: (81) 3421-0195. Até 29 de abril

Fonte: Agenda do Recife (www.agendadorecife.com.br).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pássaro dos Sonhos


O espetáculo retrata o amor, despedida e a morte, a partir da história de Nina e da sua avó Violeta.

Elenco: Grupo Coletivo Domínio Público
Gênero:
Infantil

 Horário: Domingo, às 10h30 – até 29 de abril
Entrada: 
R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)
Local:
 Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro)
Informações:
 (81) 3216.1728

Fonte: Agenda do Recife. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O teatro como arte marcial -Augusto Boal


A idéia da globalização da economia e da cultura, que hoje se apresenta moderna, é mais velha que a Sé de Braga. Modernos são os computadores, a velocidade da Bolsa e o vertiginoso trânsito das capitais. Todos os dias as bolsas movimentam um trilhão e meio de dólares em escala mundial, e apenas um por cento deste dinheiro serve à criação de riquezas; 99% são transações especulativas que buscam o lucro, como informa “Le monde diplomatique”. Essa astronômica quantia é tão moderna como o pagamento dos juros da dívida externa...sem auditoria. A crueldade do poder imperial, ao contrário, tem longas barbas brancas.
As relações econômicas internacionais, fantasiadas com a discreta elegância da diplomacia, sempre foram de natureza predatória, obra que são do ser humano. Toda vez que uma nação, tribo ou império alcançou sobre seus vizinhos poder hegemônico, sempre procurou destruí-los. Jamais o forte estendeu ao fraco a mão amiga. O Império dos mil anos não hesitava em aplicar soluções finais aos diferentes - matava. A Pax Romana outra coisa não foi senão a globalização do poder de César. Átila, o Flagelo de Deus, invadia terras e, por onde passava seu cavalo, a erva jamais cresceria. Não se diga, pois, que globalizar é moderno: a voracidade humana sempre existiu, e hoje, campeia.

Hipocrisia A hipocrisia é o manto diáfano que esconde a nudez canibalesca da globalização. Quando se invadiu o Iraque por ter ocupado poços de petróleo do Kuwait - o que fez dobrar o preço do barril! - invocou-se o sagrado dever de Ingerência Humanitária: bombardeou-se Saddam...e o barril baixou de preço. Este mesmo humanitário dever de ingerência é esquecido em Sierra Leona, onde cortar braços e pernas de prisioneiros políticos, mesmo crianças, é rotina; e também em Ruanda e na Eritréia, onde tratores empurram para a cova rasa cadáveres putrefatos, amontoados.

Clinton tem um sorriso sedutor. Visitando o Vietnã, exortou os dirigentes vietnamitas a prestarem mais atenção aos direitos humanos: quem não concordaria? Detalhe: Clinton foi presidente da nação que, há 25 anos, lançou toneladas de napalm sobre o Vietnã e matou dois milhões de vietnamitas - onde estava o respeito aos direitos humanos? Dois milhões de hipocrisias...

Lucro Eu seria globalmente a favor da globalização se o seu objetivo fosse a saúde, a educação e a ciência. Mas o que se globaliza é a busca do lucro, é a Bolsa. Quando o Banco Santander comprou o Banco do Estado de São Paulo, em tumultuado e nebuloso leilão, em novembro de 2002, não teve o menor escrúpulo em despedir centenas de empregados para modernizá-lo: o Banespa passou a dar maiores lucros, criando mais pobreza.

Ainda assim, as ações do banco espanhol baixaram de preço, porque os acionistas pensavam ser loucura investir no Brasil, país não confiável, naquela época, dirigido por um governo desacreditado; mas logo voltaram a subir quando se soube que os sete bilhões de reais pagos pelo Santander seriam recuperados em dois anos, por meio de artifícios tributários, como explicou o DIEESE.
Disse o rei Afonso VI da Espanha: “Se, antes de criar o mundo, Deus tivesse perguntado a minha opinião, eu teria aconselhado alguma coisa mais simples, um ser humano menos complicado, sem tanta arrogância e cupidez”.
Enfim...o mundo é o que é. Não somos culpados pelo que é ou pelo que tem sido, mas teremos responsabilidade pelo que vier a ser.

Revelação Quero fazer uma revelação estarrecedora: a Vida se alimenta da Morte. A Natureza é impiedosa, cruel, amoral - ela nos dá o mau exemplo. Nela, o gordo come o magro, o forte engole o fraco. Para que estejamos vivos, temos que matar, seja um suave pé de alface ou uma porca de 300 quilos: esta é a nossa natureza animal, que transportamos para as relações humanas.

O ser humano ainda não se humanizou e vive pendurado pelo rabo, saltando de galho em galho; ainda não se rege pela Moral. Vivemos épocas neandertalianas e, só porque aprendemos a dar nó em gravata, pensamos que já somos Homo Sapiens e, pior - que pretensão! - Sapiens Sapiens! Temos que ver de frente a verdade: somos bichos! - ponham isto na cabeça! O homem é o lobo do homem - dizia o poeta. Eu acrescento, prosaico: o homem come...e é comestível!

Invenção Nesse mundo de rancor e ódio, trancos e barrancos, a Bondade é uma invenção humana - não nasce espontânea como flor silvestre. Tem que ser ensinada e aprendida...mas o ser humano é mau professor e pior aluno. Esta é a nossa vasta, imensa tarefa: temos que nos afastar da nossa natureza selvagem e criar uma cultura em que a bondade seja possível e a solidariedade gozosa. Esta é uma tarefa cultural! A Cultura, porém, não se limita às obras expostas em museus ou aos espetáculos com entrada paga: cultura é o como fazer, para quê e para quem. Temos que assumir a nossa condição humana, criadora. Não somos castores que constroem diques geneticamente programados, sem saber o que fazem, ou pássaros que fabricam sempre o mesmo ninho, cantando a mesma canção, sem escolher a partitura. Não somos uirapurus, que congelam a floresta com a beleza do seu canto, quando abrem o bico. Somos capazes de cantar e construir, mas somos mais, muito mais, capazes de inventar canções e arquiteturas! O uirapuru sabe cantar, mas não sabe que está cantando - nós, mesmo cantando desafinados, sabemos desafinar.


Liberdade A Arte faz parte da Cultura, porque a cultura é o ser humano, é o que há de humano no ser: é o que nos distingue de quem é bicho. Para fazer cultura, para inventar, o artista tem que ser livre e fazer o que quiser. Se ele se submete ao mercado, se aceita suas leis e deixa de ser criador, deixa de ser artista. Eu admiro os comerciantes que fazem do seu comércio uma arte, e tenho piedade dos artistas que fazem de sua arte um comércio.

No mundo globalizado, a cultura e a arte, por serem tão poderosas, nos são roubadas e passam a servir ao mesmo propósito do comércio: o lucro. Quando assistimos a um filme de Hollywood, não é apenas o enredo que temos que engolir goela abaixo: são os modelos de brim, os chapéus texanos, o uísque mal-acabado, a música, os Hello, Joe! Go to hell, Jack! São os carros que explodem em modernas pontes de aço, e que são jogados ao mar, sulcado de jet-skis. São as sirenes policiais, as violências, os últimos modelos de metralhadoras que serão usadas pelos nossos traficantes, sempre up-to-date com as inovações bélicas.
Um filme vende mais mercadorias do que os anúncios comerciais explícitos. O mero fato de que a maioria dos filmes de TV a cabo seja falada em inglês já nos faz pensar em inglês, mesmo aqueles que não conhecem o significado das palavras. Não é por outra razão que, nas favelas cariocas, podem-se encontrar pessoas que atendem pelos nomes de Shierley Temple de Oliveira, Clark Gable da Silva, John Wayne dos Santos - graças a Deus, ainda não topamos com nenhum Sylvester Stallone de Deus, Michael Jackson da Encarnação ou Madonna Mia do Encantado.

Crime O fato de assistirmos na telinha a situações assim chamadas cômicas, mesmo que não tenham a menor graça, ou românticas, mesmo sem amor, já nos faz assimilar os sentimentos e os comportamentos dos personagens, mesmo que os saibamos imbecis e insossos. Ficamos sem sal e bobos. Tv tem sido uma forma criminosa de hipnotismo. A globalização do lucro impõe a uniformização dos seres humanos: todos devem ser iguais e consumir igual, vestir igual e comer o mesmo hambúrguer de vaca louca! A globalização impõe normas de comportamento, valores, ideologias e gosto estético.

Quando se diz que os últimos governos brasileiros nunca deram a importância devida à Cultura, eu penso diferente: sempre deram enorme importância à cultura estrangeira e aceitaram passivamente que ela invadisse nossas telas, telinhas e telões. Servilismo infantil, complexo de inferioridade.

Perigo Quando a França exigiu a exceção cultural - isto é, exigiu que o cinema e outras artes ficassem de fora da liberdade de invasão de uma potência por outra, num grande acordo comercial - não era o valor intrínseco das suas obras de arte que estava protegendo: pensava no perigo que a arte norte-americana traria no seu bojo, a propaganda do seu país e seus costumes, e também o vestuário, a indústria automobilística, os eletrodomésticos etc. As telas de cinema são vitrines de Mercadorias e de Moral - as mercadorias se vendem e a Moral se impõe.

É importante para os globalizantes destruir as culturas nacionais, locais, onde pretendem impor o seu comércio; é importante dizimá-las, pois a cultura é identidade, e os globalizantes precisam destruir identidades para melhor venderem seus produtos.
Quando ouvimos música brasileira, bossa nova ou tradicional, chorinho ou samba de carnaval, vemos a nossa cara, mesmo se feia; vendo um filme, mesmo da Atlântida, dizemos: “Somos nós!” - mesmo com pena. Hoje, é proibido ver-nos em nossa arte. Temos que ouvir rock e heavy metal, ver Godzillas e Homens Aranha! A globalização impõe a todos a mesma língua, na qual devemos dizer: yes, sir, why not?

Paradoxo Este é o curioso paradoxo da globalização: para globalizar é necessário abolir o diálogo, isolar o indivíduo - não para que fortaleça sua individualidade, mas para que desapareçam suas diferenças, que lhes dão unicidade. Instala-se o indivíduo diante da TV - TV como símbolo de intransitividade, não como eletrodoméstico - para que, dele, anestesiado, extraia-se a sua individualidade.

Seqüestra-se a individualidade do indivíduo, transformado em coisa. Isola-se o indivíduo para que perca sua individualidade, ao perder o diálogo, ao perder suas alteridades. Indivíduo sem identidade, sem nome: apenas um número! Elimina-se a descontinuidade entre um indivíduo e outro: o monólogo da globalização promove a clonagem do ser humano! Em arte, elimina-se o artista - aquele que cria o novo - e entra em cena o técnico artesão - aquele que reproduz, ad infinitum, o mesmo modelo.
A globalização é a morte do artista!

Impossibilidade Hoje, é quase impossível ser artista e permanecer no mercado cultural - poucos conseguem. Se quisermos, com nossa arte, ajudar a mudar o mundo - nosso país, nosso estado, nossa rua! - é imperativo trabalhar onde a arte não se compra nem se vende, onde a arte se vive. Onde somos todos artistas - lá, onde vive o povo: nas ruas, favelas, nos acampamentos do MST, nos sindicatos, igrejas. Lá estão aqueles que necessitam de sua própria identidade para se libertarem da opressão, mesmo quando dominados pelas idéias dominantes, mesmo quando alienados: devemos ter esperanças, mas não ilusões.

Existem hoje duas ideologias fundamentais neste mundo terminal: uma que diz que a Humanidade é uma só, que somos irmãos, e o Estado deve oferecer oportunidades iguais a todos, sem levar em conta o berço, a conta bancária e o cheque especial. A outra humanidade pode ser explicada por uma fábula antiga, a Jangada da Medusa.

Náufragos Ela nos conta a história de náufragos à deriva: sem comida, decidiram trucidar e comer os moribundos. Primeiro, os aleijados; logo depois, criancinhas indefesas, mais tarde...Queriam se salvar e foram-se comendo uns aos outros até que, na jangada, sobrou um único sobrevivente.
Morto de fome, o único náufrago pôs-se a comer a si mesmo, começando pelas partes mais dispensáveis do seu corpo: os dedos e o braço esquerdos, e também a perna do mesmo lado. Foi comendo o seu corpo e acabou por comer os intestinos, já que não tinha encontrado nada de mais nutritivo, nem na cabeça nem no coração: órgãos inúteis! A última coisa que o náufrago comeu foi a própria língua e a boca! Depois não comeu mais nada...cuspiu um dente!

Canibal As classes ricas, no Brasil, ainda estão comendo apenas crianças de rua, trabalhadores sem-terra, negros e desempregados. Mas virá o dia em que se comerá a si mesma! Essa ideologia canibal também se chama Modernidade. Canibalismo é moderno! Dizem que esquerda e direita já não existem, são coisas da Revolução Francesa. Não falarei de esquerda e de direita, palavras fora de moda. Falo de Humanismo e Canibalismo - basta de hipocrisias!

Neste confronto, Humanismo versus Canibalismo - Tiradentes versus Joaquim Silvério - no Brasil ainda estão vencendo os canibais! No mundo que se pretende robotizar, a obra de arte perde sua razão de ser e dá lugar ao produto único. O Mercado opera em nós a Prótese do Desejo, extirpa nosso desejo e nos implanta o desejo do Mercado. Para que se compre e venda mais, tenho que cantar com a garganta do cantor de sucesso; bailar com as pernas de outro bailarino, não com as que tenho; ver o mundo com olhos alheios, não com os meus. Chorar a lágrima que não é minha, sorrir o sorriso que esculpiram no meu rosto, como pedra.

Apelo Eu peço: cantemos com a nossa voz, mesmo rouca; bailemos com o nosso corpo, mesmo trôpego; digamos a nossa palavra, mesmo insegura. Essa deve ser a arte dos Humanistas, daqueles que negam a robotização, afirmam as diferenças e, delas, a unidade: somos homens e mulheres, temos a pele negra e a pele branca, são nossos olhos azuis e castanhos, e a nossa esperança é verde! Somos diferentes: pelas culturas em que crescemos, países em que vivemos; somos iguais pela determinação em sermos nós mesmos, em nos recusarmos a ser extensões do Mercado-Rei, macacos de auditório!

A globalização deseja o monólogo: para combatê-la, o diálogo é necessário, nos sindicatos e nas igrejas, nas escolas e nos partidos, nas ciências e nas artes, na solidão do divã do psicanalista e nas reuniões do teatro na praça.

Privilégio O teatro é um meio privilegiado para descobrirmos quem somos, ao criarmos imagens do nosso desejo: somos o nosso desejo, ou nada somos. Por que o teatro? Porque existem artes, como a música, que organizam o som e o silêncio, no tempo; como a pintura, que organiza a forma e cor, no espaço; e existem artes como o teatro, que organizam ações humanas no espaço e no tempo. Ao organizarem ações humanas, o teatro mostra onde se esteve, onde se está e para onde se vai: quem somos, o que sentimos e desejamos. Por isso, devemos fazer teatro, todos nós: para saber quem somos e descobrir quem podemos vir a ser.

No Teatro do Oprimido, aquele que entra em cena para contar um episódio de sua vida é, ao mesmo tempo, o narrado e o narrador - pode, por isso, imaginar-se no futuro. Entra em cena para fazer teatro, porque teatro não se faz sozinho, e para que possamos todos dizer eu, antes de nos juntarmos numa palavra mais bela: nós!

Espelho “O teatro é um espelho onde podemos ver nossos vícios, nossas virtudes” - disse Shakespeare. Pode-se também transformar em espelho mágico, como no Teatro do Oprimido, espelho que podemos invadir se não gostarmos da imagem que nos mostra e, ao penetrá-lo, ensaiar modificações desta imagem, fazê-la mais ao nosso gosto. Neste espelho, vemos o presente, mas podemos inventar o futuro dos nossos sonhos: o ato de transformar é transformador - ao mudar nossa imagem, estaremos mudando a nós mesmos, para mudarmos, depois, o mundo.

Teatro é arte e sempre foi arma. Hoje, mais do que nunca, lutando pela nossa sobrevivência cultural, o teatro é arte que revela nossa identidade e arma que a preserva. Para resistir, não basta dizer não: desejar é preciso! É preciso sonhar. Não o sonho colorido da televisão que substitui a dura realidade em preto e branco, mas o sonho que prepara uma nova realidade. Uma nova realidade em que se busque unificar a Humanidade, mas não uniformizar os seres humanos.
Hoje, o teatro é uma arte marcial!

 O presente artigo foi extraído do livro O teatro como arte marcial (Editora Garamond Ltda, 2003), que recomendamos com total entusiasmo.

Fonte: Blog de Lionel Ficher. 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

História do Teatro - Egito e Antigo Oriente-continuação:

Mesopotâmia
No segundo milênio a.C., enquanto os fiéis do Egito faziam peregrinações a Abidos e asseguravam-se das graças divinas erigindo monumentos comemorativos, o povo da Mesopotâmia descobria que o perfil de seus deuses severos e despóticos estava ficando mais suave. Os homens começavam a creditar a eles justiça e a si mesmos, a capacidade de obter a benevolência dos deuses. Estes estavam descendo à terra, tornando-se participantes dos rituais. E, com a descida dos deuses, vem o começo do teatro.

Um dos mais antigos mistérios da Mesopotâmia é baseado na lenda ritual do “matrimônio sagrado” – a união do deus ao homem. Nos templos da Suméria, pantomima, encantamento e música converteram a tradicional representação do banquete para o par divino e humano num grande drama religioso. Os governantes de Ur e Isin fizeram derivar sua realiza divina deste “casamento sagrado”, que o rei e a rainha (ou uma grã sacerdotisa delegada por comando divino) solenizavam após um banquete ritual simbólico.

De acordo com pesquisas recentes, o famoso estandarte-mosaico de Ur, do terceiro milênio a.C., é uma das mais antigas representações do “casamento sagrado”. Essa magnífica obra, com suas figuras compostas por fragmentos de conchas e calcários incrustados num fundo de lápis-lazúli, data de aproximadamente 2700 a.C. e provavelmente foi parte da caixa de ressonância de algum instrumento musical, mais do que um estandarte de guerra.

Do segundo milênio em diante, o “casamento sagrado” foi quase com certeza celebrado uma vez por ano nos maiores templos do império sumeriano. Sacerdotes e sacerdotisas faziam os papéis de rei e rainha, do deus e da deusa da cidade. Não se sabe onde foi traçada a linha divisória entre o ritual e a realidade, mas é certo que o rei Hamurabi (1728-1686 a.C.), o grande reformador da lei sumeriana, riscou o festival do “casamento sagrado” do calendário de sua corte. Hamurabi estabeleceu um novo ideal de realiza: descreveu a si mesmo como um “príncipe humilde, temente aos deuses”, como um “pastor do povo” e “rei da justiça”. Hamurabi nomeou Marduk, até então o deus da cidade da Babilônia, deus universal do império. Um diálogo sumério, que se acredita ter sido uma peça e intitulado A Conversa de Hamurabi com uma Mulher , é devotado ao criador do Código de Hamurabi e é considerado pelos orientalistas um drama cortesão. Retrata a astúcia feminina triunfando sobre um homem brilhante, apaixonado, ainda que envergue os esplêndidos trajes de um rei. É possível que o diálogo tenha sido encenado em alguma corte real rival, ou, após a morte de Hamurabi, até mesmo no palácio na Babilônia. Outro famoso documento sumério, e poema épico em forma de diálogo, Enmerkar e o Senhor de Arata, pode também ter sido um drama secular, apresentado na corte real do período de Isin-Larsa.

É certo que na Mesopotâmia os músicos da corte, tanto homens quanto mulheres, desfrutavam dos favores especiais dos soberanos. Nos templos, sacerdotes vocalistas, jovens cantoras e instrumentistas de ambos os sexos executavam a música ritual nas cerimônias e eram tratados com grande respeito. Uma filha do imperador acádio Naram-Sin é referida como “harpista da deusa lua”. As artes plásticas da Mesopotâmia dão testemunho da riqueza musical que exaltava “a majestade dos deuses" nos grandes festivais. O fato de os artistas do templo serem investidos de uma significação mitológica especial é sugerido pelos musicistas com cabeças de animais sempre vistos em relevos, selos cilíndricos e mosaicos. Os mesopotâmios possuíam um senso de humor desenvolvido. Um diálogo acádio, intitulado O Mestre e o Escravo, assemelha-se ao mimo e às farsas atelanas, o Plauto e à Commedia dell’arte. Os trocadilhos do servo expõem a vacuidade dos pretensos bons conselhos e a relatividade das decisões “bem consideradas”. Recentemente, mais exemplos do teatro secular da Mesopotâmia vieram à luz. O erudito alemão Hartmut Schmökel, por exemplo, interpretou a assim chamada Carta de um Deus como uma brincadeira de um escriba, um outro texto que soava como religioso como um tipo de sátira e um poema heróico como uma paródia grotesca.

As disputas divinas dos sumérios possuem um caráter definitivamente teatral. Até agora foram descobertos sete diálogos desse tipo. Todos eles foram compostos durante o período em que a imagem dos deuses sumérios tornou-se humanizada, não tanto em sua aparência externa quanto em suas supostas emoções. Este critério é crucial numa civilização: é a bifurcação na estrada de onde se ramifica o caminho para o teatro – pois o drama se desenvolve a partir do conflito simbolizado na idéia dos deuses transposta para a psicologia humana.

Em forma e conteúdo, os diálogos sumérios consistem na apresentação de cada personagem, a seu turno, exaltando seus próprios méritos e subestimado os do outro.

Em um dos diálogos, a deusa do trigo, Aschnan, e seu irmão, o deus pastor Lahar, discutem a respeito de qual dos dois é mais útil à humanidade. Em outros, o abrasador verão da Mesopotâmia tenta sobrepujar o brando inverno da Babilônia. Num terceiro, o deus Enki briga com a deusa mãe. Ninmah, mas mostra ser um salvador no grande tema fundamental da mitologia, e retorno do ínfero. Num quarto diálogo, Inana, a deusa da fertilidade, banida para o mundo das sombras, poderá retornar à terra se puder encontrar um substituto. Ela escolhe para este propósito o seu amor, o pastor real Dumuzi, que assim é apontado príncipe do inferno. Com a lenda de Inana e Dumuzi, o ciclo se encerra e termina no “casamento sagrado”. Inana e Dumuzi são o par sagrado original.

Mesmo os sacerdotes mais bem instruídos do período não eram capazes de fazer um conspecto do vasto panteão do antigo Oriente, com seus inumeráveis deuses principais e subsidiários das muitas Cidades-estados separadas. As relações mitológicas são muito mais complexas do que, por exemplo, aquelas existentes entre os conceitos mitológicos da Antigüidade e os do cristianismo primitivo.

No início do século XX, o erudito Peter Jensen procurou estabelecer uma conexão entre Marduk e Cristo, mas não teve sucesso. A assim chamada controvérsia Bíblia-Babel fundamentou-se na suposta existência de um drama ritual que celebrava a morte e a ressurreição de Marduk. Porém, as últimas pesquisas provaram que a interpretação textual em que se assentava esta suposição é insustentável.

No reino de Nabucodonosor, o famoso festival do Ano Novo , em homenagem ao deus da cidade da Babilônia, Marduk , era celebrado em pompa espetacular. O clímax da cerimônia sacrificial de doze dias era a grande procissão, onde o cortejo colorido de Marduk era seguido pelas muitas imagens culturais dos grandes templos do país, simbolizando “uma visita dos deuses”, e pela longa fila de sacerdotes e fiéis. Em pontos predeterminados no caminho pavimentado de vermelho e branco da procissão, até a sede do festival do Ano Novo, a comitiva se detinha para as recitações do epos da Criação e para as pantomimas. Este grande espetáculo cerimonial homenageava os deuses e o soberano, além de assombrar e emocionar o povo. “Era teatro no ambiente e no garbo do culto religioso e demonstra que os antigos mesopotâmios possuíam, pelo menos, um senso de poesia dramática; é preciso que se faça pesquisas mais amplas sobre o culto” (H. Schmökel).

Durante o terceiro e o segundo milênios a.C., outras divindades do Oriente Próximo foram homenageadas de forma semelhante em Ur, Uruk e Nippur; em Assur, Dilbat e Harran; em Mari, Umma e Lagash. Persépolis, a antiga necrópole e cidade palaciana persa, foi fundada especialmente para a celebração do festival do Ano Novo. Aqui, no final do século VI a.C., Dario ergueu o mais esplêndido dos palácios reais persas. E aqui Alexandre, sacrificou a idéia ocidental de humanistas à sua ebriedade com a vitória; após a batalha de Arbela, deixou que o palácio de Dario se consumisse nas chamas
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Fonte: Artes Dramáticas-blog de Josemar Bessa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

História do Teatro - Egito e Antigo Oriente


Egito e Antigo Oriente

A história do Egito e do Antigo Oriente Próximo nos proporciona o registro dos povos que, nos três milênios anteriores a Cristo, lançaram as bases da civilização ocidental. Eram povos atuantes nas regiões que iam desde o rio Nilo aos rios Tigre e Eufrates e ao planalto iraniano, desde o Bósforo até o Golfo Pérsico. Nesta criativa época da humanidade, o Egito instituiu as artes plásticas, a Mesopotâmia, a ciência e Israel, uma religião mundial.

A leste e a oeste do mar Vermelho, o rei-deus do Egito era o único e todo-poderoso legislador, a mais alta autoridade e juiz na terra. A ele rendiam-se homenagens em múltiplas formas de música, dança e diálogo dramático. Nas celebrações dos festivais, em glorificação à vida neste mundo ou no além-mundo, era ele figura central, e não se economizava pompa no que concernia à sua pessoa. Esta era a posição dos dinastas do Egito, dos grandes legisladores sumérios, dos imperadores dos acádios, dos reis-deuses de Ur, dos governantes do império hitita e também dos reis da Síria e da Palestina.

No Egito e por todo o antigo Oriente Próximo, a religião e mistérios, todo pensamento e ação eram determinados pela realeza, o único princípio ordenador. Alexandre, sabiamente respeitoso, submeteu-se a ela em seu triunfante progresso. Visitou o túmulo de Ciro e lhe prestou homenagem, da mesma forma que o próprio Ciro havia prestado homenagens nas tumbas dos grandes reis da Babilônia.

Durante muitos séculos, as fontes das quais emergiu a imagem do antigo Oriente Próximo estiveram limitadas a alguns poucos documentos: o Antigo Testamento, que fala da Sabedoria e da vida luxuosa do Egito, e das narrativas de alguns escritores da Antigüidade, que culpavam uns aos outros por sua “orientação notavelmente pobre”. Mesmo Heródoto, o “pai da História”, que visitou o Egito e a Mesopotâmia no século V a.C., é freqüentemente vago. Seu silêncio sobre os “jardins suspenso de Semíramis” diminui o nosso conhecimento de uma das Sete Maravilhas do mundo, e o fato de o pavilhão do festival do Ano Novo de Nabucodonosor permanecer desconhecido para ele priva os pesquisadores do teatro de valiosas chaves.

Nesse meio tempo, arqueólogos escavaram as ruínas de vastos palácios, de edifícios incrustados de mosaicos para o festival do Ano Novo, e até mesmo cidades inteiras. Historiadores da lei e da religião decifraram o engenhoso código das tabuinhas cuneiformes, que também proporcionaram algumas indicações sobre os espetáculos teatrais de antigamente.

Sabemos do ritual mágico-mítico do “casamento sagrado” dos mesopotâmios e temos fragmentos descobertos das disputas divinas dos sumérios; somos agora capazes de reconstruir a origem do diálogo da dança egípcia de Hator e a organização da paixão de Osíris em Abidos. Sabemos que o mimo e a farsa, também, tinham seu lugar reservado. Havia o anão do faraó, que lançava seus trocadilhos diante do trono e também representava o deus/gnomo Bes nas cerimônias religiosas. Havia os atores mascarados que divertiam as cortes principescas do Oriente Próximo antigo, parodiando os generais inimigos e, mais tarde, na época do crepúsculo dos deuses, zombavam até mesmo dos seres sobrenaturais.

Ao lado dos textos que sobrevivem, as artes plásticas nos fornecem algumas evidências – que deve, entretanto, ser interpretadas com cuidado – a respeito das origens do teatro. As “máscaras” ornamentais do palácio pátrio em Hatra, as máscaras grotescas nas casas dos colonos fenícios e Tharros ou as representações das cabeças dos inimigos derrotados, pendendo de broches dourados e com relevos de pedra – tudo isso dá testemunho de concepções intimamente relacionadas: o poder primitivo da máscara continua a exercer seu efeito mesmo quando ela torna decorativa. Os motivos das máscaras antigas – a despeito de algumas interpretações contraditórias - não impedem , fundamentalmente, especulações a respeito de conexões teatrais, mas mais necessariamente permanecem como suposições no enigmático panorama do terceiro milênio a.C.

O solo pobre e castigado pelo sol do Egito e o Oriente Próximo, irrigado erraticamente por seus rios, assistiu à ascensão e à queda de muitas civilizações. Conheceu o poder dos faraós e testemunhou as invocações do culto de Marduk e Mitra. Tremeu sob a marcha pesada dos arqueiros assírios em suas procissões cerimoniais e sob os pés dos guerreiros macedônios. Viu a princesa aquemênida Roxana, adornada com os trajes nupciais e escoltada por trinta jovens dançarinas,a lado de Alexandre, e ouviu os tambores, flautas e sinos dos músicos partas e sassânidas. Suportou os mastros de madeira que prendiam as cordas para os acrobatas e dançarinos, e silenciou sobre as artes praticadas pela hetera quanto o rei a convocava para dançar em seus aposentos íntimos
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 Egito
Na história da humanidade, nada deu origem a monumentos mais duradouros do que a demonstração da transitoriedade do homem – o culto aos mortos. Ele está manifestado tanto nos túmulos pré-históricos como nas pirâmides e câmaras mortuárias do Egito . Os músicos e dançarinas, banquetes e procissões e as oferendas sacrificiais retratos nos murais dos templos dedicados aos mortos testemunham a preocupação dos egípcios com um além-mundo onde nenhum prazer terreno poderia faltar.

Ao poderoso pedido aos deuses, expresso nas imagens pintadas e esculpidas, adicionava-se a magia da palavra; invocações a Rá, o deus do paraíso, ou a Osíris, o senhor dos mortos, suplicando para que aquele que partia fosse recebido em seus reinos e que os deuses o elevassem como seu semelhante.

A forma dialogada dessas inscrições sepulcrais, os assim chamados textos das pirâmides, deu origem a excitantes especulações. Permitiria-nos os hieróglifos de cinco mil anos com seus fascinantes pictogramas, fazer inferências a respeito do estado do teatro no Egito antigo? A questão foi respondida afirmativamente desde que o brilhante egiptologista Gaston Maspero, em 1882, chamou a atenção para o caráter “dramático” dos textos das pirâmides. Parece certo que as recitações nas cerimônias de coroação e jubileus (Heb seds) eram expressas em forma dramática. Mesmo a apresentação da deusa Ísis, pronunciando uma fórmula mágica para proteger seu filhinho Hórus dos efeitos fatais da picada de um escorpião, parece ter sido dramaticamente concebida.

Um encantamento de caráter diferente foi decifrado na estela de Metternich (assim chamada por encontrar-se preservada no Castelo de Metternich na Boêmia). É um encantamento popular simples, como os que as mães egípcias pronunciam até hoje quando seus filhos são picados pelo escorpião: “Veneno de Tefen, que se derrame no chão, que não avance para dentro deste corpo...”. Achados como esse e inscrições de cantos funerais e recitações não nos dão chaves para as artes teatrais do Egito, mas , ao contrário, levam a alguma confusão.

A mistura entre a apresentação na primeira pessoa e a forma invocativa em traduções antigas sugeriram, enganosamente, um suposto “diálogo”, de forma nenhuma endossado pelas pesquisas mais recentes. Além disso, às oferendas sacerdotais e aos apelos aos deuses, nas câmaras mortuárias falta o componente decisivo do teatro: seu indispensável parceiro criativo,o público.

Ele existe nas danças dramáticas cerimoniais,nas lamentações e choros pantomímicos, e nas apresentações dos mistérios de Osíris em Abidos, que são reminiscentes da peça de paixão. Todos os anos, dezenas de milhares de peregrinos viajavam a Abidos, para participar dos grandes festivais religiosos. Aqui acreditava-se estar enterrada a cabeça de Osíris; Abidos era a Meca dos egípcios. No mistério do deus que se tornou homem – sobre a entrada da emoção humana no reino do sobrenatural, ou a descida do deus às regiões de sofrimento terreno – existe o conflito dramático e, assim , a raiz do teatro.

Osíris é o mais humano de todos os deuses no panteão egípcio. A lenda finalmente transformou o deus da fertilidade num ser de carne e osso. Como o Cristo dos mistérios medievais, Osíris sofre traição e morte – um destino humano. Depois de terminado o seu martírio, as lágrimas e lamentos dos pranteadores são sua justificativa diante dos deuses. Osíris ressuscita e se torna o governador do reino dos mortos.

Os estágios do destino de Osíris constituem as estações do grande mistério de Abidos. Os sacerdotes organizavam a peça e atuavam nela. O clero percebia quão vastas possibilidades de sugestão das massas o mistério oferecia. Testemunho de sua perspicácia é o fato de que mesmo com toda e cada vez maior popularidade do culto a Osíris, com os crescentes recursos das fundações principescas e com a riqueza de suas tumbas e capelas, continuavam a levar em conta o homem do povo. Qualquer um que deixasse uma pedra ou estela memória em Abidos poderia estar seguro das bênçãos de Osíris e de que, após a morte, participaria, “transfigurado”, das cerimônias sagradas e dos ritos no templo, com sua família, exatamente como havia feito em vida.

Existe uma estela de pedra, do oficial da corte Ikhernofret, que viveu durante o reinado de Sesóstris III, na época da décima segunda dinastia. A estela traz gravadas as tarefas de seu donatário, Ikhernofret, concernentes ao templo em Abidos. A parte superior da pedra comemorativa fala da obra de restauração e reforma do templo, levada acabo por Ikhernofret; a parte de baixo (linhas 17-23) referem-se à celebração dos mistérios de Osíris. Não é possível saber, a partir da inscrição, se as fases distintas do mistério, retratando a vida, a morte e a ressurreição do deus, eram encenadas em sucessão imediata, a intervalos de dias, ou até mesmo de semanas. Heirich Schäfer, o primeiro a interpretar os hieróglifos da pedra, conjeturou que os mistérios de Osíris “se estendiam durante uma parte do ano religioso, como os nossos próprios festivais, indo desde o período do Advento até o Pentecostes, constituindo um grande drama”.

A Pedra, entretanto, esclarece as principais características dos mistérios de Osíris na época do Médio Império (2000-1700 a.C.). O relato começa com as palavras: “Eu organizei a partida de Wepwawet quando ele foi resgatar seu pai”. Parece claro, portanto, que o deus Wepwawet, na forma de um chacal, abria as cerimônias. Imediatamente após a figura de Wepwawet “aparecia o deus Osíris, em toda a sua majestade, e em seguida a ele, os nove deuses de seu séqüito. Wepwawet ia na frente, clareando o caminho para ele...”. Em triunfo, Osíris navega em seu navio, a barca de Neschmet, acompanhado dos participantes das cerimônias dos mistérios. São os seus companheiros de armas em sua luta contra seu inimigo Set.

Se devemos conceber o navio de Osíris como barca carregada por terra, então presumivelmente os guerreiros marchavam ao longo dela. Se a jornada era representada num barco real sobre o Nilo, um número de pessoas privilegiadas subiria a bordo para “lutar” ao lado de Osíris. Ikhernofret, alto oficial do governo e favorito do rei, sem dúvida estava entre esses privilegiados, porque lemos em sua inscrição: “Repudiei aqueles que se rebelaram contra a barca Neschmet e combati os inimigos de Osíris”.

Após este prelúdio, seguia-se a “grande partida” do deus, terminado com sua morte. A cena da morte provavelmente não acontecia às vistas do público comum, como a crucificação no Gólgota, mas em segredo. Porém, todos os participantes uniam-se em alta voz às lamentações da esposa de Osíris, Ísis. Heródoto conta, a respeito da cerimônia de Osíris em Busíris, que “muitas dezenas de milhares de pessoas erguiam suas vozes em lamentos”; em Abidos, deveria haver muitas mais.

Na cena seguinte, o deus Tot chega num navio para buscar o cadáver. Então são feitos os preparativos para o enterro. Morto, Osíris é enterrado em Peker, a pouco mais de um quilômetro de distância do templo de Osíris, contra o pano e fundo da larga planície em forma de crescente de Abidos. Numa grande batalha, os inimigos de Osíris são mortos por seu filho Hórus, agora um jovem. Osíris, erguido para uma nova existência no reino da morte, reentra no templo como o governador dos mortos.

Nada se conhece sobre a parte final dos mistérios, que acontecia entre “iniciados”, na parte interna do templo de Abidos. Como os mistérios de Elêusis, esses ritos permaneceram secretos para o público.

Os festivais do culto de Osíris também aconteciam nos grandes templos das cidades de Busíris, Heliópolis, Letópolis e Sais. O festival de Upuaut, deus dos mortos, em Siut, deve ter tido um processo de procissão similar. Aqui também, a imagem ricamente coberta do deus era acompanhada numa procissão solene até seu túmulo.

A cerimônia do erguimento da coluna de Ded, instituída por Amenófis III e sempre observada solenemente nos aniversários de coroação, possuía também elementos teatrais definidos. O túmulo de Kheriuf em Assasi (Tebas) fornece uma representação gráfica da cena: Amenófis e sua esposa estão sentados em tronos no local do levantamento da coluna. Suas filhas, as dezesseis princesas, tocam música com chocalhos e sistros , enquanto seis cantores louvam a Ptá, o deus guardião do império. A parte inferior do relevo de Kheriuf descreve a conclusão da cerimônia do festival: participantes lutando com bastões, numa cena simbólica de combate ritual, no qual os habitantes da cidade também tomavam parte.

Heródoto, no segundo livro de sua história, descreve uma cerimônia similar, observada em homenagem ao deus Ares, embora, a julgar pelo contexto, o deus em questão deva ter sido Hórus. Essa observação, conservada em Papremis, envolve também o combate ritual:

Em Papremis, celebram-se sacrifícios como em qualquer lugar, mas quando o sol começa a se pôr, alguns sacerdotes ocupam-se da imagem do deus; todos os outros sacerdotes, armados com bastões de madeira, ficam à porta do templo. Diante deles se coloca uma multidão de homens, mais de mil deles, também armados com bastões, que tenham algum voto a cumpri. A imagem do deus permanece num pequeno relicário de madeira adornado, e na véspera do festival é, conforme dizem, transportada para outro templo. Os poucos sacerdotes que ainda se ocupam da imagem colocam-na, juntamente com o relicário, num carro com quatro rodas e a levam para o templo. Os outros sacerdotes, que permanecem à porta, impedem-nos de entrar, mas os devotos lutam ao lado do deus e atacam os adversários.Há uma luta feroz, onde cabeças são quebradas e não são poucos os que, acredito, morrem em conseqüência dos ferimentos. Os egípcios, porém, negavam que ocorressem quaisquer mortes”.

O fanatismo ritual que essa cena sugere recorda os ferimentos auto-infligidos das peças xiitas de Hussein, na Pérsia, e os flagelantes da Europa medieval.

Através das épocas do esplendor e declínio dos faraós, o egípcio permaneceu um vassalo dócil. Aceitou as leis impostas pelo rei e os preceitos do seu sacerdócio como mandamentos dos deuses.Esse paciente apego à tradição sufocou as sementes do drama. Para um florescimento das artes dramáticas teria sido necessário o desenvolvimento de um indivíduo livremente responsável que tivesse participação na vida da comunidade, tal como encorajado na democrática Atenas. O cidadão da polis grega, que possuía voz em seu governo, possuíam também a possibilidade de um confronto pessoal com o Estado, com a história, com os deuses.

Faltava ao egípcio o impulso para a rebelião; não conhecia o conflito entre a vontade do homem e a vontade dos deuses, de onde brota a semente do drama. E, por isso, no antigo Egito, a dança, a música e as origens do teatro permaneceram amarradas às tradições do cerimonial religioso e da corte. Por mais de três mil anos as artes plásticas do Egito floresceram, mas o pleno poder do drama jamais foi despertado. (O teatro de sombras, que surgiu Egito durante o século XII d.C., proporcionou estímulos para a representação de lendas populares e eventos históricos. Sua forma e técnica foram inspiradas pelo Oriente).

Foi esta compulsão herdada para a obediência que finalmente subjugou Sinuhe, um oficial do governo de Sesóstris I que ousara fugir para o Oriente Próximo. “Uma procissão funeral será organizada para ti no dia do teu enterro”, o faraó o informou: “o céu estará sobre ti quando fores colocado sobre o esquife e os bois te levarem, e os cantores irão à tua frente quando a dança muu for executada em teu túmulo...”. Sinuhe regressou. A lei que havia governado o desempenho do seu ofício foi mais forte que a rebelião: o poder da tradição esmagou a vontade do indivíduo.

Assim não há indício, e na verdade é contra qualquer probabilidade, que desde esse ponto pudesse seguir-se uma trilha mesmo aproximadamente parecida com aquela que, na Hélade, a partir de uma origem similar na religião, levou ao desenvolvimento da tragédia ática. Para chegar a isso, o primeiro degrau precisaria ter sido uma extensão do mito de modo que contivesse o homem e, depois, um modo particular de ser humano; nenhuma das duas coisas foi encontrada no Egito". (S.Morenz).


Fonte: Site Artes Dramáticas-Josemar Bessa.

Amanhã tem mais sobre o teatro na antiguidade.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

VEM AI O MELHOR SHOW DE HUMOR EM GARANHUNS


Agora está confirmado! Nos dias 04 e 05 de maio, seu fim de semana será inesquecível com o espetáculo recorde de público no Norte Nordeste do Brasil : PRETA DE NEVE E O ANÃO. Venha rir e se divertir com o melhor show de humor do Brasil, em Garanhuns no teatro do Centro Cultural. Sucesso por onde se apresenta e há mais de um ano em cartaz, o elenco de PRETA DE NEVE E O ANÃO (foto), conquista a todos com sua irreverência na arte de fazer comédia com qualidade. Ao lado de Jaison Walace, famoso pelo seu personagem "Cinderela" na tv jornal  e no SBT, este espetáculo revoluciona no quesito humor profissional. Prepare-se e venha se divertir conosco! Sexta 04 e sábado 05 de maio apartir das 20 horas no Centro Cultural: PRETA DE NEVE E O ANÃO. Informações: (87) 8802-5153.

Fonte: Blog Ricardo Dias Produções.

domingo, 15 de abril de 2012

"Saudades..."


"Saudades...dos meus tempos de teatro...no tempo em que era mágico aquele friozinho na barriga antes de uma apresentação teatral...quem sabe um dia...eu possa sentir aquela emoção indescritível de fazer teatro novamente...passar pelo processo total da montagem de uma peça: ensaios, leituras, figurinos, sonoplastias..."

Depoimento de Ellyson Martins, ator e diretor.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ESPETÁCULO - NO HERMILO E NO MARCO CAMAROTTI‏


Em temporada no Hermilo Borba Filho espetáculo LEVE pega a estrada e chegará também a várias cidades do interior pernambucano

Graças ao projeto de circulação, “LEVE” poderá ser visto esta semana em dois teatros diferentes: no Hermilo (quinta (12)), às 19h, onde cumpre temporada e no Marco Camarotti, em Santo Amaro, na sexta (13), às 20h, com entrada franca (mas é preciso chegar uma hora antes para retirar o convite)


O espetáculo de dança “LEVE” pega a estrada pelo interior de Pernambuco com várias apresentações até o final do ano. A agenda da circulação, projeto aprovado pelo FUNCULTURA, passará por Arcoverde, Triunfo, Garanhuns, Petrolina, Goiana, São Lourenço e Recife. É isso mesmo, Recife também e por isso esta semana “LEVE” estará em cartaz em dois teatros diferentes. Em temporada no Hermilo Borba Filho todas as quartas e quintas, às 19h, “LEVE” ganha esta semana uma apresentação extra na capital pernambucana, graças ao projeto de circulação, nesta sexta (13), às 20h, no Marco Camarotti, em Santo Amaro, com entrada gratuita (por determinação do teatro a recomendação é chegar uma hora antes para retirar o ingresso na bilheteria).
Durante a circulação, a equipe da premiada montagem, que já passou por 15 estados brasileiros e foi vista por mais de 5 mil pessoas do País, também vai oferecer oficinas de dança e iluminação nas cidades do interior. A próxima acontecerá em Petrolina, nos dias 20 e 21 de abril (Oficina de Iluminação com Luciana Raposo) e no dia 22 (Oficina de Dança com Renata Muniz e Maria Agrelli). A apresentação de “LEVE” em Petrolina será dia 21 de abril, em parceria com o Sesc.
Iniciado em março, o projeto de circulação já passou por Goiana e São Lourenço. Agora em abril é a vez de Recife e Petrolina. Arcoverde e Triunfo será em setembro e em outubro Garanhuns.
“LEVE” é um convite à beleza de despertar todos os sentidos no compartilhamento de um momento inteiro, que através da arte da dança e da poesia traduz a leveza e dureza de sermos nós, com nossas dores, saudades e os voos e quedas que nos cabem. Os cheiros desenvolvidos e trabalhados especialmente para criar uma atmosfera única entre artistas e público, o tato, o olhar, a música belíssima na trilha assinada por Isaar França, o poema de Mário Quintana na voz das bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz no centro da mandala desenhada no chão, o gosto do encontro que fica no contato de nos percebermos assim, simplesmente e maravilhosamente humanos.

“LEVE” segue em cartaz no Hermilo com foco no projeto de acessibilidade


“É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim – a presença misteriosa da vida...”

(Trecho de Presença – Mário Quintana)
Poema presente no espetáculo LEVE nas
vozes de Maria Agrelli e Renata Muniz

Durante a temporada no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Lugar Comum aproxima “LEVE” também das pessoas com deficiência visual e auditiva através de um projeto completo de acessibilidade desenvolvido em parceria com a consultoria VouVer e a experiência se multiplica e nos coloca diante de algo verdadeiramente sublime. Logo na entrada, o programa está disponível também em braile, é já o sinal de que o acessível se faz em cada detalhe. Durante a apresentação, ao vivo e em tempo real, o pessoal da VouVer traz a participação de um intérprete de LIBRAS que vai traduzindo música e palavras ali, na hora, compondo uma outra dança, despertando em todos outros sentidos. Do outro lado da sala, a audiodescritora protegida por uma cabine acústica recita na hora a poesia dos corpos que se apresentam, transmitindo através de aparelhos de audiodescrição que estão disponíveis para pessoas com deficiência visual a riqueza da encenação em cada detalhe; movimentos, iluminação, figurino...
A beleza de dançar para um público amplo, incluindo pessoas com deficiência visual e auditiva, presenças diversas, criando outras percepções e novos sentidos e sentimentos na troca com a plateia e também no corpo do bailarino. A nova temporada do premiado espetáculo de dança “LEVE”, encenado pelas bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli, do Coletivo Lugar Comum, começou em março, no Hermilo Borba Filho, com uma proposta inovadora. Todas as sessões da temporada, que vai até 04 de maio, contam com audiodescrição e intérprete de LIBRAS, levantando a discussão valiosa e urgente sobre a acessibilidade nas artes, com um debate aberto a artistas, educadores e ao público em geral no final do percurso.
O projeto, aprovado pelo FUNCULTURA, tem apresentações todas as quartas e quintas, às 19h, no Hermilo. Em todas elas há 30 equipamentos de audiodescrição, proporcionando a tradução intersemiótica do que está sendo visto em palavras que descrevem objetivamente os movimentos e a interpretação das meninas, luz, cenário, figurinos, tudo especialmente e poeticamente pensado para as pessoas com deficiência visual, ao vivo e em tempo real. Além de um intérprete de LIBRAS que ensaiou todo o texto falado e as letras das músicas junto com as bailarinas para integrar ao espetáculo a tradução simultânea na linguagem dos sinais. O trabalho de consultoria e desenvolvimento do projeto de acessibilidade é da VouVer, da atriz Andreza Nóbrega e da psicóloga Liliana Tavares, ambas consultoras em acessibilidade e audiodescritoras.
A agenda das apresentações no Hermilo inclui ainda os dias 25, 26, 27 e 28 de abril e 02, 03 e 04 de maio. Haverá oficinas de dança para pessoas com deficiência visual e auditiva no final deste mês e mais, no dia 06 de maio, no Centro Cultural Correios, o projeto se desdobra com a realização de um debate aberto, como parte da programação do Festival Palco Giratório, sobre a acessibilidade comunicacional nas artes, com a presença de Andreza Nóbrega, cuja dissertação de mestrado também está focada no tema, e do professor Francisco José de Lima, coordenador do Centro de Estudos Inclusivos (CEI/UFPE); idealizador/editor da Revista Brasileira de Tradução Visual (www.rbtv.associadosda inclusao.com.br); membro internacional do Tactile Research Group (TRG-USA); pesquisador nas áreas de acessibilidade e das barreiras atitudinais contra as pessoas com deficiência, principalmente nos ambientes físicos e sociais, no trabalho, na educação e no lazer; entre outras atividades.
“LEVE foi o primeiro espetáculo de dança em Pernambuco a contar com o recurso da audiodescrição, durante uma das apresentações do Palco Giratório, em 2010. Agora será o primeiro a realizar uma temporada inteira com esse pensamento que integra a arte e a acessibilidade comunicacional com audiodescrição e LIBRAS na concepção de cada uma das sessões”, explica Andreza Nóbrega. Ela diz que em teatro já há mais iniciativas, mas em dança ainda são poucos os grupos que se concentram no debate. “Mas tudo isso vai mudando aos poucos. A orientação sobre a importância da acessibilidade ressaltada nos próprios editais, como é o caso do FUNCULTURA, tem feito os coletivos e artistas planejarem seus espetáculos com essa prioridade”, completa Liliana Tavares.
“A audiodescrição em dança tem que dançar com o corpo no palco, porque é movimento”, destaca Andreza com o brilho nos olhos de quem fala com paixão sobre a sua luta e suas conquistas. Para Liliana “é um processo muito rico. Cada obra é nova, cada trabalho é único, seja teatro, ópera, dança, cada espetáculo é único”.
Nas sessões de LEVE, as pessoas com deficiência visual vêm fazendo um tour tátil antes do início de cada espetáculo, complementando as informações percebidas e agregando ao que é ouvido as texturas, temperaturas, desenhos no espaço e outras informações do cenário e figurinos das bailarinas.
Para Maria Agrelli e Renata Muniz, a experiência tem dado a chance de perceber a criação a partir de novos olhares, além da emoção de ver o trabalho artístico tocar cada vez mais pessoas. “Durante a pesquisa de LEVE vimos que o último sentido que a gente perde quando morre é a audição e por isso no final, saímos do palco e a música continua tocando e fica ali, a música e o espaço, por muito tempo. Agora, pensando nas pessoas com deficiência auditiva, o nosso próprio universo ganha outras cores e outros sentidos”, diz Maria Agrelli.
Segundo dados do Censo 2000 do IBGE, existe uma média de 148 mil cegos e 166 mil surdos no Brasil, estando na região Nordeste a maior parcela dessa população (16,8%). Partindo do pressuposto de que a arte e a cultura são direito de todos e que o acesso democrático aos bens culturais é fator de identificação social do qual as pessoas com deficiência visual e auditiva fazem parte, a acessibilidade comunicacional consiste na eliminação de barreiras que impedem a comunicação. No Brasil o debate ganhou novos horizontes desde 2000, por meio da promulgação da Lei Federal nº 10.098 sobre acessibilidade comunicacional e sua regulamentação em Dezembro de 2004 pelo Decreto Federal 5.296.
LEVE foi concebido e montado em 2009, reunindo artistas recifenses em um espetáculo de dança que traz novos conceitos para a cena, promovendo a integração entre movimento, música, cenário e iluminação.  É um espetáculo que proporciona ao público um ambiente poético e intimista, e comove por tratar de temas tão recorrentes à condição humana: a morte, as perdas, as saudades. As sensações de impotência, dor, raiva, angústia, vazio, alívio se mesclam nas cenas, desveladas pelos corpos das bailarinas e pela atmosfera criada para este trabalho. A montagem estreou nacionalmente em junho de 2009, com uma trajetória de sucesso e premiações, incluindo melhor espetáculo júri oficial e popular, trilha sonora, iluminação, cenografia e bailarina no Prêmio APACEPE de Teatro e Dança de 2010. Participou do Festival Palco Giratório circulando por 15 estados diferentes, foi visto em 33 cidades do Brasil. Desde sua estreia já foi assistido por mais de 5 mil pessoas.

LEVE – NOVA TEMPORADA

QUANDO?
28 E 29 DE MARÇO
04, 05, 11, 12, 18, 19, 25, 26, 27 E 28 DE ABRIL
02, 03 E 04 DE MAIO

ONDE?
TEATRO HERMILO BORBA FILHO

QUANTO?
R$ 5,00 (PREÇO ÚNICO)

FICHA TÉCNICA (criação)

Concepção, criação e coreografia:
Maria Agrelli e Renata Muniz
Assistente de Coreografia: Liana Gesteira
Consultoria Artística: Valéria Vicente e Maria Clara Camarotti
Laboratórios Criativos: Liana Gesteira
Preparação Vocal: Conrado Falbo
Pesquisa Teórica e Diário de Criação: Renata Pimentel
Trilha Sonora Original: Isaar
Iluminação Criação e Execução: Luciana Raposo
Figurino Criação: Maria Agrelli
Figurino Execução: Maria Lima
Cenário Criação e Design Gráfico: Isabella Aragão e Luciana De Mari
Cenário Execução: Isabella Aragão, Luciana De Mari e Martiniano Almeida
Fotos: Breno César

FICHA TÉCNICA (NOVA temporada)

Bailarinas: Maria Agrelli e Renata Muniz
Preparação Corporal: Luiz Roberto da Silva, Victor Monteiro Ramos (Pilates)
Operação de luz: Luciana Raposo e Rodrigo Oliveira
Cenotécnico e Operador de Som: Almir Negreiros
Produção Geral: Comum de 3 Produções Artísticas e Carminha Lins
Produção Executiva: Grão – Comunicação e Cultura (Rute Pajeú)
Assessoria de Imprensa: Íntegra Cooperativa de Notícias
Projeto de Acessibilidade Comunicacional: VouVer Acessibilidade Cultural
Consultoria em Acessibilidade: Andreza Nóbrega
Roteiro de audiodescrição: Andreza Nóbrega
Locução da audiodescrição: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares
Intérprete de Libras: Ernani Ribeiro e Anderson Tavares

Fonte: Coletivo Lugar Comum/ Silvinha Góes.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

a paixão de cristo- por J.M.C & J.U.C.

Em primeira mão, já está disponível o vídeo de "A PAIXÃO DE CRISTO", encenado pelos grupos: "JOVENS MENSAGEIROS DE CRISTO", da paróquia do bairro de São Pedro-Belo Jardim-PE, e "JOVENS UNIDOS EM CRISTO", da Comunidade Santa Luzia, distrito de Água Fria, Belo Jardim-PE. Desde já, o produtor do vídeo, Ellyson Martins pede desculpas á todos pela qualidade do vídeo, além do pouco conteúdo ( o vídeo só contém 3 cenas: Pilatus 1° e 2° cena e Herodes ), mas já adianta que em breve, estará disponível na íntegra o vídeo gravado na comunidade de Santa Luzia, é aguardar para ver! 


terça-feira, 10 de abril de 2012